Título: Paciente nega favorecimento em transplante
Autor: Cimieri, Fabiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2008, Vida&, p. A27

Carlos Arraes de Alencar, filho de Miguel Arraes, defende médico acusado de fraudes e diz que pagou preço justo

O empresário Carlos Augusto Arraes de Alencar, de 57 anos, saiu ontem em defesa do médico Joaquim Ribeiro Filho, acusado de desrespeitar a fila de transplantes de fígado no Rio. Portador de hepatite C desde 1996, Alencar foi transplantado pela equipe do cirurgião em julho do ano passado e é apontado pelo Ministério Público como um dos beneficiados pelo esquema. ¿Só fomos conversar de dinheiro após a cirurgia. Até então ele queria apenas salvar a minha vida¿, disse o filho do ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, em entrevista coletiva.

Alencar disse ter pago apenas R$ 90 mil de honorários médicos à equipe médica, valor que considerou pequeno, se comparado aos outros orçamentos que havia recebido. Acompanhado por dois dos dez irmãos, Guel e Jorge, e do advogado Arthur Lavigne, ele contou ontem a via-crúcis que viveu desde a descoberta de que a hepatite havia provocado um grande tumor em seu fígado, em maio de 2007. A quimioterapia não fez efeito e os médicos davam a ele não mais do que seis meses de vida. Recomendavam que o transplante fosse feito em no máximo três meses para evitar o risco de metástase (quando o câncer migra para outros órgãos).

No Brasil, ouviu de alguns médicos que seu tumor, por ser maior do que cinco centímetros, era inoperável. Mas Ribeiro Filho o aconselhou a ir à China tentar o transplante. ¿Ele sempre salientou a dificuldade de conseguir um fígado no Brasil¿. Alencar ficou um mês internado na China sem conseguir o órgão.

Ele estava em 65º lugar na fila da Central de Transplantes do Rio. Aconselhado por um advogado, entrou com um pedido de liminar na Justiça de Pernambuco, pedindo prioridade para o seu caso. Conseguiu, e no dia seguinte apareceu um fígado em Minas Gerais que seria desperdiçado, porque não havia quem fosse buscar o órgão.

Era 18 de julho de 2007, o mesmo dia do acidente com o avião da TAM, em São Paulo, o que provocou um colapso no sistema aéreo nacional. Começava uma corrida contra o tempo. O intervalo entre a captação e o transplante do fígado não pode passar de oito horas, senão o órgão é descartado.

¿Tínhamos a liminar, mas nem precisamos usá-la. Já havíamos comunicado à Central que tínhamos como buscar o órgão¿, disse Guel. Ele contou que já contavam com essa possibilidade, porque sabiam que 400 fígados são desperdiçados por ano no País por problemas no frete. A família pagou R$ 25 mil por um jatinho.

Alencar disse ter documentos da Central de Transplantes autorizando que recebesse o fígado. O Ministério Público, no entanto, afirma que Ribeiro Filho conseguiu a autorização alegando que o órgão iria para uma paciente do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, no Fundão, onde sua equipe também opera. Ribeiro Filho está preso no Rio desde quarta-feira.