Título: Posição de ministro preocupa o Planalto
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2008, Nacional, p. A4
Avaliação é de que Tarso constrange e cria problemas para o presidente
A defesa pública da punição dos torturadores do regime militar, feita pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, na semana passada, não desagradou apenas às Forças Armadas. Setores do Palácio do Planalto e do governo também se irritaram com as declarações e reprovaram a conduta do ministro.
A avaliação predominante na Esplanada dos Ministérios é de que o discurso da ¿responsabilização dos agentes públicos que praticaram violações dos direitos humanos¿ só está servindo para ¿constranger e criar problemas¿ para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No governo, quem mais se incomodou com a manifestação ¿inconveniente¿ de Tarso foi o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Ele comentou no fim de semana com um interlocutor que já teve ¿de apagar incêndio dele (de Tarso) com o Judiciário¿ e agora surge a ¿provocação aos militares, sem avisar ninguém¿. Frisou que se via obrigado a contestar o colega de público, para contornar a crise.
O embate com o Judiciário se deu por causa das críticas de Tarso ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, em razão dos seguidos habeas corpus concedidos pela Justiça a presos em operações da Polícia Federal.
Depois do seminário promovido pelo ministro da Justiça, Jobim apressou-se em afirmar que ¿a análise dos fatos que estão sendo levantados por Tarso cabe exclusivamente ao Judiciário¿ e nada tem a ver com o Executivo.
Jobim também atuou nos bastidores, procurando acalmar pessoalmente os comandantes das três Forças e agradou. Oficiais do Exército estão sendo convencidos de que há um ¿núcleo do governo que barra o revanchismo propalado pelo ministro da Justiça¿, mas nem assim está sendo fácil conter a revolta dos militares diante das declarações de Tarso.
IMAGEM
Generais em postos de comando têm defendido a tese de que o presidente Lula precisa dar um ¿cala-boca¿ no ministro. Argumentam nos bastidores que os constantes embates, seja com o Judiciário ou com as Forças Armadas, prejudicam a imagem do governo e comprometem o ambiente interno.
Um general da ativa que acompanha os desdobramentos do seminário do ministério e participa dos debates suscitados no Exército afirma que isso demonstra ¿desunião interna e nos prejudica a todos¿.