Título: Petistas apontam disputa por vaga em 2010
Autor: Samarco, Christiane; Fontes, Cida
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2008, Nacional, p. A4
De olho na cadeira de Lula, ministro tenta se viabilizar e desbancar Dilma
A despeito da disputa interna permanente que caracteriza o PT, petistas de várias alas, instalados no governo ou no Congresso, concordam em um ponto: é a sucessão presidencial que está por trás da briga que o ministro da Justiça, Tarso Genro, comprou com as Forças Armadas. A avaliação geral no Palácio do Planalto e no partido é de que, com esse discurso, Tarso procura se firmar como um perfil à esquerda da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, na disputa pela cadeira ocupada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
¿Se o ministro quer agir como militante político, que peça licença do cargo¿, reagiu o deputado Jilmar Tatto (PT-SP), ao acrescentar que Tarso teria criado uma polêmica ¿fora de hora¿. ¿Seria imaturidade achar que com isso ganhará cacife para a disputa presidencial em 2010¿, disse. Apesar de concordar com o mérito da proposta, por entender que não existe anistia para assassinos, o deputado afirmou que não é o momento de abrir esse debate. ¿O ministro da Justiça tem de atuar como magistrado, ter posição de Estado. Portanto, não cabe a ele ficar falando sobre isso¿, alfinetou Tatto.
Posição semelhante foi manifestada pelo deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP). ¿A prioridade agora do PT é aprovar nas urnas a política de desenvolvimento, distribuição de renda e de criação de empregos implementada pelo governo¿, emendou. Além de destacar que o esforço dos petistas está voltado para as eleições municipais, Vaccarezza deixou claro que o partido seguirá a posição do presidente Lula nessa discussão, não a do ministro Tarso.
Senadores petistas, por sua vez, lembram que não é a primeira vez que Tarso tem divergências públicas com Lula. O entendimento de que a motivação do ministro é ganhar terreno na luta interna do PT também é partilhada por setores expressivos do governo.
FORA DA PAUTA
Surpreendido com a audiência pública convocada pelo Ministério da Justiça para debater a Lei de Anistia, um ministro que transita com desenvoltura no Planalto observa que esse assunto estava fora da pauta da sociedade e frisa que não havia um debate acadêmico que justificasse a iniciativa do ministro da Justiça.
Como não existe pressão de nenhum segmento social para mudar a lei, o mesmo ministro acrescenta que só mesmo a disputa de bastidor entre Tarso e Dilma, ambos de olho em 2010, pode explicar a movimentação. Afinal, acrescenta, nem os cassados e torturados manifestaram interesse em recolocar este tema na agenda.
O Estado tentou ouvir Tarso. Informada das questões levantadas por militares e petistas, a assessoria de Tarso informou que ele estava envolvido em compromissos familiares.