Título: Comissão de Ética avalia conduta de Carvalho
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2008, Nacional, p. A10

Chefe de gabinete da Presidência disse a Greenhalgh que governo não investigava seu cliente

A Comissão de Ética Pública vai analisar se o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, cometeu algum desvio ao informar o ex-deputado e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, em telefonema, que não havia ninguém designado na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) ou no governo investigando seu cliente Humberto Braz, lobista do banqueiro Daniel Dantas, dono do Banco Opportunity. Braz e Dantas foram presos pela Polícia Federal na Operação Satiagraha e há suspeita de que Carvalho teria repassado informações privilegiadas a Greenhalgh.

O advogado Roberto Caldas foi designado relator do caso e pode pedir novos esclarecimentos a Gilberto Carvalho, a degravação da conversa dele com Greenhalgh ou trechos do inquérito da PF. Caldas informou que poderá buscar outros depoimentos de pessoas citadas na conversa de Greenhalgh com Carvalho, como Luiz Fernando Correa, diretor da PF. Ressalvou, no entanto, que a comissão não tem poder de investigação e não faz acareações. Mas, se entender que não houve desvio, o próprio relator poderá sugerir o arquivamento do caso.

Na reunião de ontem da comissão, foi adiada a decisão de julgar se a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, cometeu desvio ético no caso da venda da VarigLog. O padre Ernane Pinheiro, relator do caso, já fez seu parecer. Mas o caso não foi adiante porque o presidente da comissão, Sepúlveda Pertence, alegou razões de ¿foro íntimo¿ para se julgar impedido de se pronunciar. Como a comissão precisa de pelo menos quatro integrantes para deliberar, somente quando pelo menos um dos três novos membros for designado a votação será realizada, o que deve acontecer ainda este mês.

Duas questões estão sendo avaliadas no caso de Dilma. Se ela teria interferido em favor de um grupo privado que comprou a VarigLog e a Varig. A outra questão é o fato de a ministra ter confirmado que recebeu o advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo menos duas vezes na Casa Civil em encontros não registrados em sua agenda pública, o que é considerado infração pelo Código de Ética. A omissão desse tipo de encontro pode levar Dilma a ser advertida ou a receber sugestão de ser afastada do cargo.

Em entrevista ao Estado, a ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) Denise Abreu denunciou interferências de Dilma na venda da Variglog. Teixeira é advogado do fundo norte-americano Matlin Patterson, que integrou a sociedade com empresários brasileiros que comprou a VarigLog. O fundo seria o real controlador da companhia, o que contraria o Código Aeronáutico Brasileiro.