Título: Argentina quer mais equilíbrio na relação comercial
Autor: Palacios, Ariel; Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2008, Economia, p. B3

Empresários reclamam do superávit brasileiro na balança entre os países, e falam em `reduzir assimetrias¿

¿Reduzir assimetrias¿ tornou-se a nova palavra de ordem dos industriais argentinos quando se referem aos ¿retoques¿ a serem implementados na relação comercial Brasil-Argentina. Os empresários locais argumentam que os colegas brasileiros possuem um ¿ostensivo¿ respaldo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), organismo que os argentinos invejam, para potencializar sua capacidade de produção. Além disso, alegam que a balança comercial entre os dois países foi desde 2003 altamente superavitária para o Brasil (calcula-se que seria de US$ 5,8 bilhões neste ano).

Mas, analisada de forma específica, no comércio de produtos industrializados, a margem favorável ao mercado brasileiro foi muito maior. O presidente da União Industrial Argentina (UIA), Juan Carlos Lascurain, negou que exista uma invasão de produtos ¿made in Brazil¿ - tal como costumavam reclamar os industriais argentinos em 2004 e 2005.

Mas ressaltou ontem que no ano passado o superávit brasileiro na área industrial com a Argentina foi de US$ 6,7 bilhões. ¿Temos de eliminar assimetrias¿, apelou Lascurain, durante o almoço com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Cristina Kirchner no Palácio San Martín, a chancelaria argentina. ¿Como disse o presidente Lula, só pode haver um Mercosul forte com uma Argentina industrializada¿, disse o líder da UIA.

RESISTÊNCIAS

¿Queremos que a Argentina e o Brasil estejam juntos para valer¿, afirmou Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que anunciou que os empresários brasileiros e argentinos combinaram de realizar reuniões bimestrais ordinárias para coordenar ações.

¿Não temos que ficar brigando por coisas pequenas entre nós. Temos de enfrentar coisas como a China¿, destacou Skaf. ¿O único assunto sobre o qual deveriam existir divergências é o futebol¿, brincou.

Um dos empresários que integraram a comitiva do Brasil afirmou em off que há dez anos os brasileiros eram apontados na Argentina como ¿pessoas que queriam fazer negócios mas não investir¿. Segundo ele, o empresariado brasileiro atualmente ¿atende àquilo que os argentinos reclamavam¿. ¿E, além disso, modernizamos plantas industriais neste país.¿

No entanto, o empresário disse que ainda percebe ¿resistências à presença brasileira¿. ¿Essa resistência vem mais do governo argentino, embora também a veja no empresariado.¿

O industrial citou como exemplo dos ¿poréns¿ colocados com freqüência em Buenos Aires o caso da Alpargatas Argentina, que em 2001 foi vendida para um fundo de investimento dos Estados Unidos, sem objeções. No ano passado, a empresa foi revendida para a brasileira Camargo Correa. No entanto, a Secretaria de Defesa da Concorrência da Argentina ainda não autorizou a venda para a Camargo Correa.