Título: É cedo para comemorar a queda do IPCA
Autor: Nakagawa, Fernando; Chiarini, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/08/2008, Economia, p. B7

Para Meirelles, é preciso esperar alguns meses para definir tendência

e Jacqueline Farid

Ainda é cedo para comemorar a queda das projeções de mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Essa é a avaliação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, feita ontem durante seminário sobre metas de inflação promovido pela instituição. Ele diz ser preciso esperar alguns meses para averiguar o efeito do aumento da taxa básica de juros (Selic) e verificar se será mantida a atual queda de preços das commodities.

¿É um pouco prematuro dizer até que ponto já existe reflexo da política monetária¿, disse, ao comentar a primeira queda das estimativas para o IPCA, após 18 altas seguidas. Ele reforçou o tom cauteloso com a declaração de que também é cedo para levar em conta a recente queda das commodities, como o petróleo, nas decisões sobre os juros. ¿É preciso esperar os próximos meses, o próximo ano¿, disse, repetindo que o BC trabalha para levar a inflação de volta ao centro da meta (4,5%) em 2009.

Já o diretor de Política Econômica, Mário Mesquita, afirmou que o BC ¿está integral e inequivocamente comprometido com as metas¿. Para manter o IPCA em um nível aceitável, o diretor disse que a ¿política monetária deve atuar vigorosamente por meio do ajuste da taxa básica de juros¿. Para ele, essa ação é necessária porque a economia apresenta ritmo de expansão ¿bastante robusto¿, sustentado pelo aquecimento do mercado de trabalho e aumento do crédito.

Cuidadoso ao tratar da inflação brasileira, Meirelles se mostrou mais à vontade para sugerir que o sistema de metas - como o do Brasil - deveria ser adotado por outros países como forma de conter a alta da inflação internacional. ¿No atual contexto global, creio que o regime poderá contribuir efetivamente para restabelecer níveis de inflação baixa e estável.¿

Mesquita frisou que a situação da economia global está longe de ser tranqüila. Para o diretor, a tendência de desaceleração da atividade global deve se aprofundar. Também comentou que os reflexos da crise financeira não estão restritos apenas aos Estados Unidos, e a recuperação da maior economia do mundo não deve ocorrer antes de meados de 2009.

Apesar da chance de o Brasil não cumprir a meta no ano em que é comemorada a primeira década do sistema, o presidente do BC fez defesa veemente da opção e disse que o regime permitiu a estabilização da economia e o planejamento de longo prazo para empresas e famílias.

Admitiu, porém, que existem limites na atuação da política monetária. Ele deu como exemplo a pouca influência sobre a microeconomia, como a produtividade das empresas.

Meirelles também comentou que é possível ver uma mudança na percepção econômica da sociedade nos últimos anos. ¿Felizmente, a sociedade amadureceu e se foram as crenças de que qualquer aceleração da atividade é positiva. Bem como de que qualquer desaceleração é negativa.¿ Para ele, a população entendeu que a inflação alta pode ser pior que um eventual esfriamento da economia.