Título: Classe média já é maioria no País
Autor: Saraiva, Alessandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/08/2008, Economia, p. B5

De 2002 a 2006, famílias com renda entre R$ 1.064 e R$ 4.591 passaram de 44,19% para 51,89% da população

A classe média já é mais da metade da população nas seis principais regiões metropolitanas do País. Com renda maior e comprando mais, as famílias que agora ocupam essa faixa foram as grandes beneficiadas pela estabilidade econômica e pelo aumento do emprego com carteira assinada. É o que revela o estudo A Nova Classe Média, divulgado ontem pelo Centro Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas.

Segundo a pesquisa, hoje há mais chances de ascensão social do que há seis anos. Desde 2002, a participação da classe média na população economicamente ativa cresceu de 44,19% para 51,89% nas seis regiões pesquisadas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre), que formam a base da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No levantamento da FGV, a classe C é classificada como classe média, com renda mensal domiciliar entre R$ 1.064 e R$ 4.591. O economista Marcelo Neri, um dos coordenadores da pesquisa, usou dados da PME para traçar um retrato da atual classe média e sua evolução nos últimos seis anos. Ele aponta como um dos principais fatores para inflar a classe média a expansão no emprego formal. ¿A carteira assinada é o grande símbolo da classe média¿, comentou.

O fenômeno é dissociado dos efeitos de programas assistenciais, como o Bolsa-Família, por exemplo. ¿Na verdade, a nova classe média é aquele segmento do meio, que cresceu muito nos últimos anos: o grupo emergente que cresceu a partir do próprio trabalho¿, afirmou.

Esse aumento do emprego pode ter influenciado na redução da pobreza e da miséria nos últimos seis anos, também revelado pela pesquisa. ¿Na verdade, o levantamento apresentou um cenário positivo também no combate à desigualdade.¿

Os dados da análise mostraram o desenvolvimento do Índice de Gini, que mede o grau de desigualdade na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. O índice varia de 0 a 1, no qual o 0 significa que não há desigualdade e 1, desigualdade máxima, ou seja, apenas um pequeno grupo detém toda a renda da sociedade. De abril de 2002 para abril deste ano, o Índice de Gini passou de 0,62 para 0,58.

Neri comentou ainda que a participação das famílias na faixa da miséria (renda próxima de zero) no total da população caiu de 34,93% para 25,16%, nos últimos seis anos. ¿Estamos com uma boa safra de indicadores sociais, nunca antes vista.¿

Um dos pontos fracos apontados pelo estudo foi a ausência de mão-de-obra qualificada para cargos com maiores salários. ¿Antes tínhamos uma crise de desemprego; hoje temos um apagão de mão-de-obra¿, disse. A pesquisa revelou ainda que a renda média domiciliar total da população saltou de R$1.784,08 para R$ 1.956,90 de abril de 2002 para abril deste ano, um aumento de 9,6%.

Nos últimos seis anos, a participação das classes A e B (famílias de renda acima de R$ 4.591 mensais) também cresceu nas seis regiões, passando de 11,61% para 15,52%. Já a participação das famílias de classe mais baixa, que ganham menos de R$ 1.064 por mês, caiu de 46,13% para 32,59% da população.