Título: 508 cursos de graduação com notas baixas serão vistoriados
Autor: Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/08/2008, Vida&, p. A20

Representam 25% das Ciências da Saúde e Agrárias; porcentual de médias 1 e 2 no Enade subiu de 10% para 34%

Um quarto dos cursos superiores das áreas de Ciências da Saúde e Agrárias passará por vistoria do Ministério da Educação no próximo ano por causa da nota baixa na avaliação. O resultado do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), divulgado ontem, mostra que 508 cursos não conseguiram ir além de notas 1 e 2, numa escala até 5, no Conceito Preliminar do Curso (CPC), o novo instrumento usado para avaliar as instituições.

Veja as notas de todos os cursos avaliados nesta edição do Enade

Desses 508, 64 são de instituições públicas (incluindo 23 federais) e o restante de particulares. O novo CPC une os resultados da prova do Enade com outros dados levantados no Censo do Ensino Superior e no questionário socioeconômico que os próprios estudantes preenchem ao fazer a prova (mais informações nesta página). É, segundo o ministro da Educação, Fernando Haddad, um avanço pedido pelas instituições e pelos próprios alunos, que consideravam a avaliação muito baseada nos resultados obtidos nas provas.

Quando se desconsidera o novo conceito criado pelo MEC e se analisa apenas o Enade, ou seja, a nota da prova (calculada em cima da média obtida pelos alunos), o resultado fica ainda pior. São 722 cursos com Enade 1 e 2, o que representa 34% dos 2.128 cursos avaliados e que tiveram conceitos válidos publicados. Apesar do aumento do total de cursos, o resultado é muito pior do que há três anos, quando essas mesmas áreas foram avaliadas pela primeira vez. Na época, com 1.427 cursos com conceitos válidos, o que tiveram Enade 1 e 2 eram apenas 10,4% do total. Essa é a segunda vez que Ciências Agrárias e da Saúde são avaliadas. O sistema criado pelo MEC prevê uma avaliação a cada três anos. Enfermagem, por exemplo, tinha apenas 196 cursos avaliados em 2004. Agora, são 540, a maior área do Enade em 2007. Desses, 104 são ruins.

Na outra ponta, apenas 25 cursos tiveram nota 5 nos três itens - Enade, CPC e Índice de Desempenho (IDD) -, sendo que nenhum é particular (mais informações na pág. A22).

NOVIDADE

Com o novo conceito, o MEC quer pular etapas e centrar a fiscalização in loco - prevista na lei que criou o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior (Sinaes) - apenas nos cursos com piores resultados, os conceitos 1 e 2. Isso diminuiria para menos da metade o número de cursos que precisam ser avaliados e o ministério poderá, de acordo com Haddad, terminar a avaliação em, no máximo, um ano.

O Sinaes prevê que, para renovarem seu credenciamento, os cursos precisam passar por duas avaliações do Enade e uma in loco e receberem o conceito definitivo do curso. A partir do CPC, as instituições com notas 3 para cima terão sua renovação automática. Já os 1 e 2 precisarão assinar o protocolo de intenções com o MEC para sanear problemas apontados na avaliação in loco. Se não as cumprirem em no máximo um ano, um processo administrativo será aberto, podendo chegar, na punição máxima, ao fechamento do curso. ¿O negativo não é ter deficiências. O fato de as deficiências serem identificadas e estabelecer um compromisso para saneá-las é muito positivo¿, disse o secretário de ensino superior do MEC, Ronaldo Mota.

O processo todo, no entanto, está incomodando algumas instituições. Ontem, o Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular divulgou nota acusando o MEC de não ouvi-las sobre a criação do CPC e de prejudicar a imagem das instituições com a divulgação do conceito. ¿Só vai prejudicar a imagem das ruins. Só se preocupa com a avaliação quem não fez um bom trabalho. Quem fez ganha com a visibilidade¿, diz o ministro, que ainda classificou de ¿um erro grosseiro¿ as críticas feitas pelas instituições.

A expectativa do ministério, no entanto, é que algumas instituições com notas 2 possam ser beneficiadas pela avaliação in loco e passarem para conceito 3. Isso pode acontecer porque o curso pode ter ido mal no Enade por boicote dos alunos ou outro problema. No entanto, o ministério não quer mudanças drásticas. ¿Antes a festa era grande. Todo mundo era aprovado pelo MEC¿, afirmou Haddad, referindo-se às avaliações da época do antigo Provão.

No Enade 2007 foram avaliados cursos de Agronomia, Biomedicina, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Serviço Social, Tecnologia de Radiologia, Terapia Ocupacional e Zootecnia. No total, foram avaliados 3.239 cursos. A USP e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) não participaram.