Título: IPCA cai para 0,53% e põe em debate alta de juro
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2008, Economia, p. B1

Preços de alimentos desaceleram em julho e puxam para baixo indicador que baliza meta de inflação no País

Após quatro meses de disparada de preços, os alimentos, protagonistas da alta inflacionária desde o segundo semestre do ano passado, começaram a dar sinais em julho de que os reajustes estão perdendo fôlego. O IPCA, indicador que serve de referência para a meta de inflação, registrou alta de 0,53% no mês, bem abaixo do 0,74% de junho.

A inflação dos alimentos caiu à metade (1,05%, ante 2,11% do mês anterior) e puxou o recuo. A avaliação da maioria dos economistas, no entanto, é de que essa involução não será suficiente para reverter a trajetória de alta nos juros.

No ano, o IPCA acumula alta de 4,19% e em 12 meses, de 6,37%. A meta definida pelo governo para 2008 é de 4,5%, com piso de 2,5% e teto de 6,5%. Para a coordenadora de índices de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos, as ações governamentais para conter a escalada dos alimentos, como a retirada de tributos do trigo e o anúncio do plano de safra para o ano que vem, podem ter contribuído para a perda de ritmo da inflação.

Ela citou, também, a safra recorde de 145,3 milhões de toneladas, prevista para este ano, como um dos fatores importantes para as variações mais amenas nos preços dos produtos alimentícios. Eulina alerta, porém, que ainda é cedo para considerar a desaceleração como tendência. ¿É preciso um tempo maior. Esses resultados têm de ser consolidados¿, afirmou.

Para analistas, o impulso para a menor pressão dos alimentos está mais vinculado a fatores externos do que a iniciativas domésticas. Segundo sócio-diretor da RC Consultores, Fábio Silveira, e a LCA Consultores, o recuo das commodities no mercado internacional permitiu a perda de ritmo da inflação.

¿Caminhamos celeremente para desaceleração das taxas mensais de inflação e o ponto de partida está lá fora, não aqui dentro¿, disse Silveira.

SELIC

A contenção da inflação em julho não terá repercussão imediata na política monetária, segundo economistas. O argumento é de que o recuo esteve relacionado, aparentemente, a fatores sazonais e não tem ligação com desaquecimento da demanda, principal objetivo da atual alta dos juros.

José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos, disse que a perda de ritmo da inflação ¿não tem muito a ver com a política monetária, que está mais preocupada com a demanda¿.

Marcela Prada, economista da Tendências Consultoria, disse que mantém inalterada a projeção de Selic em 15% (atualmente está em 13%) em janeiro de 2009. ¿É muito cedo para tirar conclusões, há ainda muita incerteza em relação à trajetória dos preços das commodities¿, disse