Título: Fazenda vê números com cautela
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2008, Economia, p. B4

Equipe de Mantega evita euforia, mas avalia que IPCA e IGP-M confirmam que commodities eram foco de pressão

Os números de inflação medidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) agradaram ao Ministério da Fazenda, mas ainda não deixaram eufórico o ministro Guido Mantega. Para eles, ainda não é possível baixar a guarda no esforço antiinflacionário. A avaliação é de que o IPCA de 0,53% em julho, que ficou abaixo das expectativas, e o IGP-M, com deflação de 0,01% na primeira prévia do mês, confirmam a análise de que a inflação dos últimos meses foi eminentemente provocada pelo choque de commodities, especialmente alimentos.

Essa posição é diferente da que vem sendo manifestada pelo Banco Central (BC), que atribui maior peso ao aquecimento do nível de atividade do País na escalada dos preços. Mas Mantega e sua equipe também consideram que não se deve desprezar o fato de os demais itens do IPCA estarem se acelerando, refletindo os chamados efeitos secundários do choque externo (quando a inflação se espalha), que ainda estão sendo combatidos com a combinação das políticas monetária e fiscal.

Para os técnicos da Fazenda, o problema inflacionário ainda não está resolvido. Por isso, continuam trabalhando com um cenário de elevação do juro pelo BC, embora entendam que o ambiente que agora se desenha mais claramente mostra que não será necessário um ajuste muito profundo da Selic.

Segundo uma fonte ouvida pelo Estado, se os juros subissem até 14% ao ano (hoje estão em 13%), a convergência da inflação para a meta em 2009 estaria garantida e o crescimento de 4,5%, outra prioridade do governo, também. Para essa fonte, o BC vai levar em conta esse novo cenário da inflação em sua próxima reunião, prevista para setembro.

De qualquer forma, a expectativa do ministério é de que os índices mensais do IPCA fiquem menores a partir de agora, rodando em torno de 0,4% a 0,5%. Mas o prognóstico da equipe econômica é de que a taxa acumulada em 12 meses, que em julho chegou a 6,37%, deverá se acelerar, romper o teto da meta de inflação (6,5%) e atingir o pico em novembro (6,8%), caindo em dezembro para a casa de 6,5%.

Embora a estimativa de média mensal do IPCA feita pela Fazenda para os próximos meses seja menor do que os 0,6% de média do primeiro semestre, para que o índice fique no centro da meta de 4,5% em 2009 será necessária uma desaceleração maior. Mas o ministério entende que, com o ritmo da atividade se reduzindo no ano que vem, a convergência da inflação ocorrerá. Nas contas da equipe de Mantega, os sinais mais claros de desaceleração da economia aparecerão a partir de outubro.

Uma incerteza com relação ao cenário otimista de inflação desenhado pela Fazenda é a taxa de câmbio. O temor é de que uma queda abrupta das commodities provoque uma desvalorização do real maior e mais rápida do que o mercado espera, o que poderia anular o efeito positivo da queda dos preços internacionais.

Por ora, a visão é de que a recente redução dos preços das commodities foi só uma ¿correção dos excessos¿, que mantém as cotações ainda em níveis bastante elevados historicamente, como no caso do petróleo, que ontem fechou em US$ 115. Mesmo uma subida mais forte do dólar ante o real, na visão da equipe econômica, seria uma alteração de nível, não um movimento contínuo.