Título: FMI receita corte de gastos ao Brasil
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/08/2008, Economia, p. B7

Relatório do Fundo demonstra preocupação com alta da inflação e também critica a criação do Fundo Soberano

O Fundo Monetário Internacional (FMI) recomendou ao Brasil um ¿aperto das finanças públicas¿ para reduzir a pressão sobre a política monetária para controlar a inflação. ¿A contenção do crescimento dos gastos públicos - desde que se proteja o gasto em áreas prioritárias - seria essencial para reequilibrar o mix de políticas macroeconômicas¿, diz o relatório de consulta do artigo IV de 2008, elaborado pelo conselho de administração do FMI. Os diretores também recomendaram um orçamento de médio prazo que possa orientar a política fiscal, ¿conter seu atual viés procíclico e proteger os gastos prioritários em períodos de baixa atividade econômica¿.

O Fundo ressalta que o superávit primário ficou ligeiramente acima da meta por causa da alta da arrecadação, mas ¿as despesas correntes também cresceram a um ritmo intenso¿. O superávit primário do setor público nos 12 meses até junho de 2008 foi de 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB). ¿Nos últimos três anos, a arrecadação federal aumentou cerca de 2,5 pontos porcentuais do PIB, e as despesas correntes subiram quase na mesma proporção.¿

Dentro desse contexto, o FMI criticou a criação do Fundo Soberano. ¿Os recursos disponíveis seriam mais bem empregados na redução do ainda elevado nível de endividamento público do País¿, diz o relatório.

O Fundo projeta um déficit em conta corrente de US$ 28,9 bilhões em 2008, acima da previsão do Banco Central, e um superávit comercial de US$ 19,9 bilhões, bem abaixo dos US$ 25 bilhões previstos pelo BC.

O FMI voltou a ressaltar sua preocupação com a alta da inflação no País, advertindo que as pressões inflacionárias vão além do que seria apenas efeito dos choques nos preços das commodities. ¿O Brasil deve conter o crescimento da demanda interna¿, diz o relatório. Os diretores do Fundo também manifestaram preocupação com a rápida reversão do superávit das contas externas.

O relatório elogia a elevação de juros e o aumento da meta de superávit primário, mas observa que a contenção imediata da demanda interna reforça a credibilidade da política econômica e dá maior margem de manobra no caso de nova deterioração do cenário mundial. ¿A recente elevação da taxa de juros mostrou-se oportuna, já que uma atuação firme e rápida é fundamental para conter as pressões inflacionárias e evitar que medidas mais enérgicas e prolongadas tenham de ser adotadas no futuro¿, diz o relatório.

O FMI elogiou a expansão do crédito no País, mas apontou para a ¿deterioração dos critérios para a concessão de crédito em alguns segmentos, principalmente cartões de crédito e empréstimos para a compra de veículos¿.

Apesar dos alertas, os diretores do Fundo consideram que o governo brasileiro está fazendo um trabalho positivo na condução da política econômica, que, ¿aliado às condições externas extremamente favoráveis nos últimos anos, deu grande impulso ao desempenho econômico do Brasil e aumentou a resistência do País a choques externos adversos¿.

O Fundo ressalta que o Brasil está muito menos vulnerável a choques externos e aponta que ¿o reduzido impacto das turbulências globais sobre a economia doméstica evidencia essa nova realidade, reconhecida com a recente reclassificação do risco soberano do Brasil para grau de investimento¿.