Título: Commodities têm queda recorde e aliviam inflação
Autor: Chiara, Márcia De
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/08/2008, Economia, p. B1

Preço da soja, por exemplo, caiu 22% em 30 dias; analistas já vêem IPCA no centro da meta em 2009

Os preços das commodities já caíram mais de 12% em agosto e tiveram o maior recuo da década. O índice Commodity Research Bureau (CRB), que acompanha a cotação das matérias primas comercializadas em larga escala no mercado mundial nos mercados futuros, fechou sexta-feira em 387,42 pontos, depois de ter atingido 440,7 pontos em julho e 443,8 pontos em junho, o pico da série histórica.

A tendência de queda é visível desde o mês passado. Nos últimos 30 dias, a cotação da soja, por exemplo, caiu 22% no mercado futuro; o milho, 27%; o petróleo, 17%; e o alumínio, 10%. Esse movimento alivia a pressão sobre a inflação neste ano e deve trazer os índices para níveis próximos do centro da meta seguida pelo Banco Central (BC), de 4,5% para 2009, prevêem os economistas.

Dois indicadores divulgados na semana passada reforçam essa tendência. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medida oficial da inflação, encerrou julho em 0,53%, ante 0,74% no mês anterior. A desaceleração foi provocada pela perda de fôlego dos preços dos alimentos, que aumentaram 1,05% em julho, a metade da variação de junho (2,11%).

A primeira prévia deste mês do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) apresentou deflação de 0,01%, depois de ter subido 1,55% em julho. Nesse caso, também os alimentos ajudaram a derrubar a inflação tanto no atacado como no varejo.

A desaceleração da inflação estampada nos índices reflete só uma parte do recuo dos preços das commodities, afirma o sócio-diretor da RC Consult, Fábio Silveira. ¿O maior impacto está por vir.¿ Segundo ele, a inflação deste ano dificilmente vai superar 6,5% e deve ficar abaixo de 4,5% em 2009 por causa da queda das commodities.

¿Se alguém tinha dúvida de que o BC traria a inflação de 2009 próximo da meta, agora ela diminuiu¿, diz o economista do Banco Real, Fábio Susteras.

Para a economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, a meta de 4,5% para o ano que vem ¿está no jogo¿, mesmo que os preços das commodities parem de cair e se estabilizem no nível atual. ¿Não tenho dúvidas de que o recuo das commodities dará alívio à inflação em 2009.¿

Na análise de Silveira, os fundamentos do mercado indicam tendência de queda dos preços das commodities. A perspectiva de que a economia mundial vai crescer menos, com a desaceleração dos Estados Unidos, da União Européia e do Japão, além da perda de fôlego da China e da Índia, soa como um sinal de alerta de que a bolha de preços dessas matérias-primas pode ter começado a murchar.

¿Pela primeira vez em três anos, acredito que os preços das commodities estão em queda e devem se acomodar em 2009¿, afirma o sócio-diretor da MB Associados, José Roberto Mendonça de Barros.

Entre os fatores que contribuem para isso, ele destaca o crescimento menor dos países emergentes. Apesar de aliviar a inflação, a queda das commodities, especialmente agrícolas, coloca o País numa saia-justa, já que elas respondem por mais de 50% do saldo comercial.