Título: População ratifica mandato de Evo
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2008, Internacional, p. A14

Presidente acena com diálogo com governadores da oposição e afirma que intensificará as nacionalizações

Após ter seu mandato ratificado no referendo revogatório de ontem na Bolívia com mais de 60% dos votos, segundo pesquisas de boca-de-urna, o presidente Evo Morales ofereceu diálogo à oposição regional e anunciou que continuará "avançando na recuperação dos recursos naturais e nas nacionalizações" de seu país. "Quero trabalhar de maneira conjunta com autoridades departamentais e municipais para garantir esse processo de mudança do nosso modelo econômico e a nacionalização de outros recursos naturais", disse.

O discurso foi feito pouco depois do anúncio das estimativas de resultados do referendo. Evo obteve uma votação bem maior que os 53,7% que o elegeram em 2005 e interpretou isso como um novo impulso para a "revolução democrática" que ele pretende implementar na Bolívia.

No entanto, todos os governadores opositores dos departamentos (Estados) da chamada Meia Lua - Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando - também foram ratificados em seus cargos e viram o resultado como um aval para aprofundar seus projetos de autonomia.

OFENSAS

Em uma clara afronta a La Paz, o prefeito de Santa Cruz, Rubén Costas - que obteve de 66% a 72% dos votos favoráveis a sua permanência no cargo -, anunciou que a partir de hoje trabalhará para criar uma força de segurança local, uma Assembléia Legislativa para sua região e uma agência tributária departamental para ter "recursos próprios".

Evo preferiu a conciliação. "Estamos convencidos de que é importante unir os bolivianos do Oriente e do Ocidente do país", disse. Para isso, ele propôs a inclusão do reconhecimento das autonomias departamentais no novo projeto de Constituição, aprovado por parlamentares governistas em novembro. "Quero expressar meu respeito aos prefeitos cujos mandatos foram ratificados e convocá-los para trabalhar de maneira conjunta."

Segundo pesquisas, foram revogados os mandatos de três governadores. Um eles é aliado de Evo - Luis Aguilar, de Oruro - e os outros dois são opositores - Manfred Reyes Villa, de Cochabamba e José Luis Paredes, de La Paz. Reyes Villa foi o único que não reconheceu o resultado do referendo e anunciou que não deixará o cargo.

Apesar de toda a tensão, a votação transcorreu com relativa tranqüilidade. Ocorreram apenas incidentes isolados. Na localidade de Yucumo, no norte do país, as cédulas que seriam usadas na votação foram roubadas. Em La Paz, um homem armado tentou atacar Paredes, segundo a polícia local.

DIÁLOGO

Para o analista político Gonzálo Chávez, os bolivianos mostraram com essa votação que querem mudanças que promovam inclusão social, mas que também não abrem mão de uma maior divisão de poder para os departamentos. "Só com o diálogo se atenderá às duas demandas", disse Chávez.

NÚMEROS

60,7% dos votos é o que conquistou Evo, segundo projeções de boca-de-urna 5 governadores também foram ratificados no cargo, segundo as mesmas pesquisas. Quatro são da oposição

3 governadores tiveram seus mandatos revogados, indicam as projeções