Título: Pesquisa pode reduzir impacto
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/08/2008, Vida&, p. A17

Uma das estratégias é desenvolver plantas transgênicas, resistentes a temperaturas altas

As projeções da Embrapa e da Unicamp sobre o aquecimento global contrastam o cenário positivo vivido pelo agronegócio brasileiro. A safra de grãos de 2007 foi recorde: 133,3 milhões de toneladas. E a previsão para este ano é ainda maior: 143,3 milhões de toneladas. O setor movimenta R$ 611,8 bilhões, cerca de um quarto da economia brasileira.

A elevação da temperatura média global, porém, pode prejudicar profundamente o cenário nas próximas décadas se nada for feito para adaptar a produção às novas condições climáticas. "O País está em risco? Sim. Tudo está perdido? Não", diz o pesquisador Eduardo Assad, da Embrapa. Com investimento, e bem direcionado, em ciência e tecnologia é possível evitar impactos mais severos no campo. Uma das estratégias propostas é o desenvolvimento de plantas transgênicas, resistentes a condições de seca e temperatura elevada. Para isso, pesquisadores da Embrapa Cerrados buscam isolar genes de plantas silvestres naturalmente resistentes, como pau-terra-da-folha-grande e sucupira-preta, que possam ser transferidos para espécies como feijão, milho e soja.

"Os genes estão na natureza", afirma Saad. "A biodiversidade é a salvação da lavoura." Mais uma razão, dizem os cientistas, para encerrar o quanto antes a ocupação predatória do cerrado, da caatinga e da Amazônia. O agronegócio é um dos principais vetores do desmatamento, que é a principal fonte de gases do efeito estufa no País. "De uma das vilãs do aquecimento global, a agricultura pode passar à condição de vítima", alerta o estudo.

No semi-árido nordestino, recomenda-se o aproveitamento de espécies regionais. "Em vez de lidar com milho, arroz, feijão, soja, é possível trabalhar com mandacaru, xique-xique, sorgo", diz o trabalho. "Algumas dessas alternativas são conhecidas há anos, mas ainda faltam incentivos para a domesticação dessas plantas e sua produção em larga escala."

Além de se preparar para mudanças inevitáveis, dizem os pesquisadores, é preciso reduzir as emissões de gases-estufa para evitar que o aquecimento assuma proporções incontroláveis. Segundo Assad, é preciso manter a alta da temperatura abaixo de 2°C. "A partir daí é irreversível."

O estudo é baseado em dois cenários climáticos desenvolvidos por pesquisadores do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Inpe. Um é pessimista: prevê alta de 2°C a 5,4°C. O outro é "otimista": prevê alta de 1,4°C a 3,8°C - o que já trará mudanças climáticas significativas. "Um certo nível de adaptação será inevitável", diz o especialista José Marengo, do CPTEC. Mesmo em lugares onde o regime de chuvas permanecer constante, diz ele, o aquecimento reduzirá a disponibilidade hídrica, fazendo com que o solo e as plantas transpirem mais água. H.E.