Título: Médico nega fraude em fila de transplantes
Autor: Cimieri, Fabiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/08/2008, Vida&, p. A20

Acusado de manipular ordem, Ribeiro Filho diz que tinha autonomia para decidir sobre órgãos

Apesar de a legislação estadual do Rio determinar que os fígados marginais (fora da normalidade) devem ser analisados por uma câmara técnica, o médico Joaquim Ribeiro Filho, em interrogatório na 3ª Vara Federal Criminal, afirmou que sua equipe tinha autonomia para dizer se o órgão ¿vai ser usado ou não, nesse ou naquele paciente¿. Mesmo assim, ele disse não considerar que tenha furado a fila e criticou o Sistema Nacional de Transplantes, que, segundo ele, capta menos de 20% de fígados do que poderia. Foi a primeira vez que o médico apareceu em público depois de ter sido preso pela Polícia Federal na Operação Fura-Fila. Ele demonstrou segurança nas respostas, contestando cada uma das acusações. Chegou a interromper algumas vezes o juiz Lafredo Lisboa para soletrar os termos técnicos e ditar a pontuação para o escrivão.

Durante as mais de três horas de interrogatório, Ribeiro Filho deu a sua versão para cada um dos três casos em que é investigado. No primeiro, em 2003, o Ministério Público o acusa de ter privilegiado o irmão de um ex-secretário de Transportes, Jaime Ariston, que estaria em 32º da fila. De acordo com o cirurgião, o fígado transplantado era marginal e, nesse caso, só os doentes muito debilitados e sem chances de conseguir um fígado a curto prazo aceitam recebê-lo. Ele disse ter oferecido o órgão a outros pacientes que estavam na frente, inclusive aos do Hospital-Geral de Bonsucesso, que não aceitou.

Ribeiro Filho disse que a equipe do Hospital Clementino Fraga Filho, no Fundão, atualizava semanalmente a lista dos pacientes que aceitariam receber um órgão marginal. No caso de Carlos Augusto Arraes, explicou, ele era o 62º da fila, mas tinha uma liminar da Justiça de Pernambuco que o colocava como prioridade. No terceiro caso, que não chegou a ser concretizado, a Central de Transplantes interceptou o fígado, que a equipe de Ribeiro Filho havia classificado como marginal e, após exame laboratorial, constatou que o órgão estava normal. Segundo Ribeiro Filho, a classificação seguiu o protocolo médico, já que durante a captação aconteceram três paradas cardíacas que, em tese, comprometem a vascularização do órgão.