Título: Tática do banqueiro é virar vítima, dizem policiais
Autor: Ruhman, Carolina
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2008, Nacional, p. A4

O banqueiro Daniel Dantas usou uma estratégia antiga em seu depoimento na CPI dos Grampos. Essa é a avaliação dos policiais federais da equipe que examina os documentos apreendidos com os acusados na Operação Satiagraha. Como prova, os agentes apontam grampos e documentos reunidos n a investigação do caso.

Aos parlamentares, Dantas disse ter ouvido do delegado Protógenes Queiroz que as investigações chegariam até Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele afirmou ainda que o inquérito contra ele foi encomendado pelo diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, como retaliação por causa de um dossiê com supostas contas bancárias no exterior do delegado e de outros integrantes do governo.

Segundo a PF, o objetivo de Dantas era fazer uma cortina de fumaça, transformando-se de acusador em vítima. Em um dos relatórios da Operação Satiagraha, Dantas é acusado de manipular informações e usá-las segundo seus interesses para ¿confundir a opinião de autoridades públicas nacionais e internacionais¿. Como indício desse tipo de conduta, Protógenes apontou um diálogo entre Dantas e Danielle Silbergleid, diretora jurídica do Opportunity, em 15 de novembro de 2007.

Nele, o banqueiro diz a Danielle: ¿(Quero) encruar esse assunto da Kroll dentro do processo¿. Ele se refere ao processo em Nova York que o Citibank movia contra o Opportunity pedindo US$ 300 milhões de indenização por gestão fraudulenta - o processo acabou após os dois entrarem em acordo para a venda da Brasil Telecom à Oi. O banqueiro especifica o que ele deseja do relatório da Kroll. ¿(É um trecho que) fala que a Telecom Italia pagou ao prefeito de Santo André, tá? E o prefeito de Santo André foi morto.¿ Em seguida, ele explica sua intenção: ¿Quero suspender o tamanho do drama.¿ O objetivo de Dantas seria usar a morte de Celso Daniel, em 2002, para influenciar a corte americana.

A defesa de Dantas sempre negou a manipulação do processo americano e do aberto na Itália, que apura o esquema de espionagem usado pela Telecom Itália contra o banqueiro. ¿As investigações da Procuradoria de Milão podem tirar qualquer cortina de fumaça e lançar luz sobre o que ficou conhecido como caso Kroll¿, disse a assessoria do Opportunity, em referência à acusação de que Dantas contratou a Kroll para espionar desafetos e autoridades.