Título: Grupo de Dantas pede quebra de sigilo de delegado
Autor: Ruhman, Carolina
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2008, Nacional, p. A4
Solicitação contra Protógenes foi apresentada à Justiça Federal pelo advogado do lobista Hugo Chicaroni
Carolina Ruhman
O grupo ligado ao banqueiro Daniel Dantas resolveu contra-atacar. Ontem, pouco antes do início dos depoimentos das testemunhas de acusação, no processo em que o controlr do Opportunity é réu por corrupção ativa, o advogado Alberto Carlos Dias, defensor do lobista Hugo Chicaroni - aliado de Dantas -, informou que pediu à Justiça a quebra do sigilo telefônico de seu cliente e do delegado Protógenes Queiroz.
O advogado alega que Chicaroni e o delegado eram amigos há sete anos e a suposta tentativa de suborno, registrada em vídeo anexado ao processo, teria sido iniciativa dos federais. Ele disse que Protógenes e o delegado Vitor Hugo Rodrigues Alves teriam telefonado para Chicaroni e ¿ali já se travou a tratativa (de suborno), com relação a dinheiro, inclusive¿. Quanto ao dinheiro encontrado na casa de Chicaroni, R$ 1,18 milhão, o advogado afirmou que seu cliente ¿armazenou o dinheiro, mas a destinação não era para nenhum ato corruptivo¿.
Ao chegar à Justiça Federal, em São Paulo, Dantas reiterou críticas à atuação de Protógenes, que comandou a Operação Satiagraha, investigação sobre suposto esquema de desvio de recursos públicos, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. ¿Ele (Protógenes) tem um objetivo, acho que não é pessoal¿, disse o banqueiro. Como réu em processo sobre crime de corrupção ativa, ele teve de acompanhar os depoimentos dos acusadores.
Ao ser indagado sobre qual seria o objetivo do delegado, Dantas limitou-se a dizer: ¿Quer criar dificuldades.¿
Na quarta-feira, na CPI dos Grampos, na Câmara, mesmo munido de habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que o autorizava a permanecer em silêncio, Dantas já havia atacado seu algoz.
A Satiagraha abriu forte crise na cúpula da Polícia Federal. Protógenes denunciou superiores que o teriam pressionado a revelar, antes da operação, os nomes de todos os alvos. Ele disse que houve boicote à missão.
A audiência foi na 6.ª Vara Criminal Federal, cujo titular é o juiz Fausto Martin De Sanctis, que preside o processo contra o banqueiro, denunciado porque teria tentado subornar Protógenes com US$ 1 milhão - em troca do engavetamento do inquérito.
O magistrado deu oportunidade a Dantas para falar, mas o banqueiro se manteve em silêncio, conduta que já havia assumido semana passada quando seu advogado, Nélio Machado, orientou-o a ficar calado sob alegação de que não teve acesso à integra da transcrição de escuta ambiental que a PF juntou aos autos como prova da tentativa de suborno.
Além de Protógenes, testemunhou pela acusação o delegado Vitor Hugo. ¿As duas testemunhas confirmaram integralmente a acusação do Ministério Público Federal, e de forma bem detalhada¿, disse o procurador Rodrigo de Grandis. ¿Confirmaram o oferecimento da vantagem indevida da propina para que se afastasse da investigação Dantas e a irmã dele, Verônica, para abafar o caso. Já ficou claro, até pelo próprio depoimento de Chicaroni, que a origem do dinheiro é o Opportunity.¿
Além de Dantas, são réus na ação Humberto Braz, ex-presidente da Brasil Telecom, e o lobista Chicaroni. Braz e Chicaroni teriam negociado diretamente com Vitor Hugo a interrupção da Satiagraha. A PF filmou e gravou encontros dos dois com o delegado em um restaurante. O procedimento, denominado ação controlada, foi autorizado pela Justiça. Em depoimento, Chicaroni afirmou que é amigo de Protógenes desde 2001.
Sobre o pedido de quebra do sigilo telefônico de Protógenes, o procurador anotou: ¿O próprio delegado não nega que conhece Chicaroni. A tese da defesa tem a finalidade clara de demonstrar flagrante preparado, mas isso não aconteceu porque existia a ação controlada, autorizada judicialmente¿.
A defesa de Dantas arrolou testemunhas residentes no exterior, uma na Itália, outra nos Estados Unidos. Também incluiu o senador Heráclito Fortes (DEM-PI).