Título: Ultra compra postos da Texaco por R$ 1,16 bi e já é a 2ª maior rede do País
Autor: Aragão, Marianna ; Magnabosco, André
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/08/2008, Negócios, p. B14
Líder na distribuição de gás no País, o Ultra somará 2 mil postos de gasolina à rede Ipiranga, comprada no ano passado
Marianna Aragão e André Magnabosco
A onda de consolidação no mercado brasileiro de distribuição de combustíveis ganhou mais um capítulo ontem, com a aquisição da rede de postos Texaco pelo Grupo Ultra. A compra dos cerca de 2 mil postos da rede, um negócio de R$ 1,161 bilhão, coloca o Ultra na segunda posição entre as maiores empresas em distribuição de combustíveis no País.
Com a nova composição, o Ultra terá 23% do mercado - atrás apenas da Petrobrás, dona da distribuidora BR - e passará a atuar em todo o País (com exceção do Estado de Roraima). Hoje, a participação de mercado do Ultra é de 14%.
Essa á a terceira grande aquisição no setor em pouco mais de um ano. No ano passado, Petrobrás, Braskem e Ultra compraram a Ipiranga. Na partilha, o Ultra ficou com os postos da bandeira apenas no Sul e no Sudeste e a Petrobrás, com as demais regiões. Em abril deste ano, a Cosan, produtora de açúcar e álcool, comprou os ativos da Esso no Brasil. Atualmente, cerca de 80% do mercado está nas mãos desses grupos.
MERCADO DE US$ 30 BILHÕES
De acordo com especialistas, o movimento de aquisições é resultado do aquecimento do setor. No ano passado, ele movimentou cerca de US$ 30 bilhões, puxado principalmente pelo forte aumento nas vendas de carros e pelo crescimento da economia. O consumo de combustíveis cresceu 8,5% em relação a 2006.
Segundo o diretor-presidente do Grupo Ultra, Pedro Wongtschowski, a compra da Texaco confirma a aposta no setor, que cresceu 11% no primeiro semestre deste ano. ¿A renda e o consumo interno cresceram, aumentando a demanda por serviços e investimentos em infra-estrutura, que estão ligados ao segmento¿, afirmou.
Para Wongtschowski, a estrutura da Texaco vai permitir escala maior ao negócio. ¿A distribuição de combustíveis é um atividade de varejo, e por isso, exige essa escala¿, justificou. Segundo o Ultra, a composição proporcionará a ampliação de mais de 60% na sua escala de operações.
Ele disse que, com a compra, a Ipiranga volta a ter acesso a regiões de altas taxas de crescimento de consumo, referindo-se ao Centro-Oeste, Norte e Nordeste, onde o Ultra não atua. Nessas áreas, a distribuição de combustíveis cresceu 14%, contra 11% da média nacional. Com a união das duas operações, o grupo terá uma participação de 9% nesses mercados.
RECURSOS
A empresa informou que usará os recursos que tem em caixa para efetuar a compra. A liquidação do negócio, porém, deve ocorrer apenas no início do ano que vem, após a separação das atividades de lubrificantes e exploração de petróleo da área de distribuição da Chevron. Além dos ativos da Texaco - postos, lojas de conveniência e estrutura logística -, a transação envolveu o uso da marca Texaco nos próximos cinco anos.
¿Trabalharemos com a marca Texaco enquanto a Petrobrás usar a marca Ipiranga¿, disse o diretor-superintendente da Ipiranga, Leocádio Antunes de Almeida Filho. A Petrobrás, que ficou com os postos Ipiranga no Centro-Oeste, Norte e Nordeste, tem o direito de uso da marca até 2012, conforme o contrato assinado no ano passado. Depois, a Ipiranga será a única bandeira de postos de gasolina do Grupo Ultra.
Segundo os executivos da empresa, as lojas de conveniência da Texaco serão mantidas e continuarão a receber investimentos. ¿Vemos um grande potencial de expansão nessa área¿, disse o diretor-presidente Pedro Wongtschowski.
Apesar de comentada no mercado há alguns meses, a aquisição fez as ações preferenciais da Ultrapar Participações dispararem. Os papéis registraram ontem a maior valorização do índice Bovespa, da Bolsa de Valores de São Paulo. As ações do grupo subiram 5,25%.
REDE DE POSTOS
Segundo o presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes, Paulo Mirando Soares, outro diferencial das unidades da Texaco, além da presença expressiva nesses locais, é o perfil de seus postos nas grandes cidades. ¿A Texaco há anos vem selecionando a rede, por isso possui boas unidades, instaladas em áreas superiores a 3 mil metros quadrados¿, disse.
Na prática, isso garante ao Ultra condições de obter melhores margens mesmo antes de fechar unidades pequenas da Ipiranga e abrir ou comprar novos postos, de maior porte e melhor localizados. Hoje, a Ipiranga possui cerca de 3,3 mil postos em operação no País.
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro), José Alberto Paiva Gouveia, lembra que o controle sobre postos próprios dá à empresa condições mais flexíveis de operação, já que não é necessária a assinatura de contratos de longo prazo de fornecimento, como acontece com unidades franqueadas.
¿Nessas condições, a empresa garante mais acesso às operações do posto¿, disse Gouveia. O perfil das unidades é considerado fundamental no setor, visto que as margens dos distribuidores estão estreitas, segundo Gouveia. ¿Hoje, o lucro por litro, pequeno, é compensado pelo volume.¿
Por isso, especialistas acreditam na redução do número de empresas atuando em distribuição de combustíveis, seja por aquisições, seja pelas dificuldades enfrentadas por empresas irregulares após o aumento da fiscalização sobre as atividades do setor, com a obrigação de emissão de nota fiscal eletrônica.
FRASES
Pedro Wongtschowski presidente do Grupo Ultra
¿A distribuição de combustível é um atividade de varejo, e por isso, exige essa escala¿
Leocádio Antunes Filho diretor da Ipiranga
¿Trabalharemos com a marca Texaco enquanto a Petrobrás ainda usa a marca Ipiranga¿