Título: Dilma defende modelo norueguês
Autor: Goy, Leonardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/08/2008, Economia, p. B4

Para a ministra, Petoro, empresa que administra reservas, é `estatal enxuta¿

Vera Rosa

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, admitiu ontem a possibilidade de o governo criar uma empresa estatal nos moldes da norueguesa Petoro, para administrar as reservas recém-descobertas de petróleo na camada pré-sal, na Bacia de Santos. Em café da manhã com deputados e dirigentes do PT no Distrito Federal, Dilma confirmou que a intenção do governo Lula é destinar os recursos obtidos com royalties de petróleo para investimentos em educação.

¿Acredito que essa definição vem atender a uma injustiça e, mais do que iss uma falha histórica dos sucessivos governos com o povo brasileiro¿, argumentou. ¿Precisamos pagar essa dívida.¿ Na prática, o discurso de Dilma segue estratégia definida pelo Planalto para ganhar apoio da sociedade à campanha que ressuscita o mote ¿o petróleo é nosso¿, dos anos 50.

A ministra contou aos petistas que a Petoro repassa uma fatia do dinheiro obtido com a venda do petróleo para a Previdência Social. ¿Aqui, a intenção do governo é se apropriar dessa riqueza para investir em educação¿, afirmou o presidente do PT do Distrito Federal, Chico Vigilante, que participou do encontro.

Descontraída diante dos companheiros de partido, Dilma definiu a empresa norueguesa que administra as reservas de petróleo como ¿uma estatal enxuta¿. Numa espécie de aula, a ministra explicou que a Noruega - terceiro maior exportador de petróleo bruto do mundo, atrás apenas da Arábia Saudita e da Rússia - comanda duas empresas estatais nessa área.

A primeira é a conhecida Statoil, que, apesar de controlada pelo governo, possui capital privado e se dedica à exploração de petróleo, a exemplo da Petrobrás. Na outra ponta está a Petoro, que cuida da administração das reservas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conheceu o modelo norueguês quando visitou os países escandinavos, em setembro do ano passado.

DIVERGÊNCIAS

O tom da exposição da ministra acalmou a platéia petista, que temia o enfraquecimento da Petrobrás. Na prática, porém, há divergências no governo sobre a conveniência de mudar o atual regime de concessão na exploração do petróleo. Além disso, a Petrobrás é contra a criação de uma nova estatal no setor. O presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, já se indispôs várias vezes com Dilma e, para piorar a situação, há uma guerra de bastidores envolvendo a tradicional disputa por cargos entre PT e PMDB, os dois principais partidos da coalizão governista.

¿O governo vai de A a Z, mas tem um condutor que é o Lula¿, disse Dilma, de acordo com relato de deputados. ¿Se alguém tenta sair da linha, ele puxa.¿ Antes de encerrar a conversa, que durou duas horas e meia, a ministra se comprometeu a debater novamente o tema com os petistas depois das eleições de outubro. ¿Todo mundo ficou encantado com a Dilma¿, resumiu Chico Vigilante.