Título: PF resiste a ceder áudio de reunião com delegado
Autor: Mendes, Vannildo
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/08/2008, Nacional, p. A10
Juiz cobra entrega de todos os dados do encontro em que Protógenes diz ter sido pressionado
Fausto Macedo
A Polícia Federal resiste à liberação de todos os dados acerca da reunião de 14 de julho em que o delegado Protógenes Queiroz, ex-chefe da Satiagraha, teria sido pressionado por superiores a deixar o caso. A ordem para entrega das informações foi dada pelo juiz Fausto Martin De Sanctis, titular da 6ª Vara Criminal Federal.
A PF apresenta dois argumentos para não concordar com a abertura integral do CD que contém três horas de áudio daquele encontro - ocorrido seis dias depois da operação -, que provocou até a intervenção do presidente da República.
Para manter em segredo o documento, os federais alegam existência de dados confidenciais da missão que duas vezes levou o banqueiro Daniel Dantas para a prisão, sob suspeita de lavagem de dinheiro, evasão, quadrilha e corrupção ativa. A PF sustenta que o CD guarda informações exclusivamente afetas à corporação, não sendo pertinente acesso à defesa.
Ao solicitar o material, o juiz De Sanctis acatou pedido do criminalista Nélio Machado, defensor do controlador do Grupo Opportunity. O Ministério Público Federal manifestou-se favorável à abertura dos dados. Machado considera ¿fundamental¿ conhecer o que chama de balanço geral da Satiagraha. Cerca de 10 autoridades federais estavam à mesa - entre elas, Protógenes e Roberto Troncon, diretor de Combate ao Crime Organizado da PF.
O principal resultado da reunião foi o afastamento de Protógenes. A medida levou o presidente Lula a sugerir publicamente o seu retorno. Ele cobrou do delegado uma explicação. No auge da crise Satiagraha, a PF deu publicidade a pouco mais de 2 minutos do encontro, trechos parciais que indicam desejo de Protógenes em se afastar espontaneamente do inquérito para dedicar-se ao Curso Superior de Polícia. A defesa de Dantas acha pouco e quer chegar a todos os detalhes que podem explicar bastidores da missão federal.
Ontem, o procurador da República Roberto Diana, do controle externo das atividades policiais, cobrou da PF informações sobre a logística da Satiagraha. Protógenes denunciou boicote à operação, mas a PF ainda não atendeu requerimento do procurador, encaminhado há quase um mês. Diana deu prazo de 10 dias para a PF responder.