Título: Até técnicos do governo vêem exagero em reajustes
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2008, Nacional, p. A18

Até mesmo técnicos do Palácio do Planalto avaliam que o governo exagerou na dose ao conceder reajustes salariais tão generosos quanto os embutidos nas últimas medidas provisórias. Um interlocutor da Casa Civil classifica como contradição inexplicável, referindo-se ao fato de o Ministério do Planejamento ter proposto lei em 2007 limitando o aumento dos gastos de pessoal a apenas 1,5% ao ano acima da inflação.

Em menos de dois anos, a regra ainda não aprovada pelo Congresso está desmoralizada pelo próprio Executivo. A confirmarem-se as projeções, despesas de pessoal pularão de R$ 105,5 bilhões em 2006, antes da apresentação da proposta, para R$ 155,3 bilhões em 2009. Em três anos, projeta-se expansão da folha de pessoal de 23,1% acima da inflação estimada, quando o limite proposto era de 4,6%.

Para integrantes da Casa Civil, onde as MPs são analisadas, a bola de neve foi lançada quando o governo cedeu à greve dos auditores da Receita, que terão salários elevados até R$ 19.451 mensais. Depois, outras carreiras assemelhadas, como analistas do Planejamento e do Tesouro, decidiram pedir o mesmo e o ministério não pôde segurar.

Nessa queda-de-braço pela responsabilidade dos aumentos, o Planejamento culpa indiretamente a Casa Civil por ter concordado em transformar, em 2007, o salário dos delegados da Polícia Federal e dos advogados da União em um "subsídio" de quase R$ 20 mil.

O governo incluiu na MP um condicionante de que a concretização dos aumentos dependerá da existência de receita.