Título: País deve poupar renda do pré-sal, diz Coutinho
Autor: Nogueira, Rui; Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/08/2008, Economia, p. B3

A renda extraordinária com a qual o Brasil deverá contar a partir do início da exploração de petróleo na camada pré-sal da Bacia de Santos deve ser poupada a fim de evitar uma ¿explosão¿ do déficit em conta corrente. A afirmação foi feita pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, segunda-feira à noite, ao receber o prêmio Economista do Ano 2008, promovido pelo Conselho Regional de Economia (Corecon).

¿Se essa renda (originada da exploração de petróleo) for gasta em consumo público e privado, será inevitável que o aumento do investimento venha a ser feito por poupança externa¿, argumentou. ¿Se, contudo, esta renda for poupada, seja através de um fundo soberano ou outros fundos institucionais que garantam que este não seja o emprego dos recursos, então estará dado um grande passo para equacionar o desafio¿, defendeu.

O desafio a que se refere o presidente do BNDES tem base no raciocínio de que um cenário de expansão acelerada dos investimentos, com alcance e manutenção de taxas próximas a 22% do Produto Interno Bruto (PIB) a partir de 2010, é ¿muito plausível¿. Para isso, no entanto, outros componentes da demanda agregada (consumo das famílias, do governo e exportações líquidas) terão de ¿ceder¿ espaço relativo nesse cálculo em relação ao PIB.

¿Na ausência de qualquer acomodação por parte do consumo, o ônus do ajuste recairá, necessariamente, sobre as exportações líquidas.¿ Segundo ele, a continuidade dessa queda tende a provocar uma elevação excessiva do déficit em conta corrente, o que seria uma ameaça de ¿ressuscitar o fantasma¿ da vulnerabilidade externa.

Coutinho lembrou que, desde o início de 2006, período em que o investimento avançou 2,4 pontos porcentuais do PIB (de 16,2% para 18,6%), as exportações líquidas caíram 2,5 pontos porcentuais do PIB e o saldo em conta corrente baixou em 2,1 pontos porcentuais (de 1,4 para -0,7%).

Para o presidente do BNDES, no entanto, há outra forma de avaliar o problema: na medida em que a taxa de investimento cresça e a taxa de poupança privada e pública se mantenha constante, aumentará a taxa de poupança externa. ¿É forçoso concluir, portanto, que a única maneira de elevar a taxa de investimento na magnitude requerida sem elevar perigosamente o déficit em conta corrente consiste em elevar a taxa de poupança.¿