Título: Serra vê trapalhada; Sarney critica uso político da missão
Autor: Amorim, Silvia
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2009, Internacional, p. A14

Governador ironiza atuação do Itamaraty; senador ataca conduta de Zelaya na embaixada

O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), classificou ontem como "trapalhada" a conduta do Itamaraty no caso do abrigo ao presidente deposto de Honduras, Manuel Zelayaa Zelaya. "Acho que o Itamaraty meteu-se numa trapalhada que não será fácil desfazer", disse Serra.

O governador afirmou que não está "acompanhando em minúcias" o caso, mas espera que o País encontre uma saída bem sucedida. Serra lembrou que teve de recorrer à ajuda de embaixadas no Brasil e no Chile para proteger-se do regime militar nas duas vezes em que foi exilado. "Gastei na minha vida uns nove meses retido em embaixadas para sair do país. O que tem lá (em Honduras) não é asilo", avaliou.

Já o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), avaliou ontem que há exagero, por parte de Zelaya, na ocupação da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Na opinião de Sarney, Zelaya está transformando a representação diplomática em um comitê político.

"Acho que o direito de asilo (a Zelaya) o Brasil não poderia deixar de dar. Mas o que está havendo agora é um certo exagero na ocupação da embaixada. Ele tenta transformá-la em um comitê político", criticou Sarney, ao chegar ao Senado.

Segundo o senador, uma tradição diplomática do Brasil foi atingida. "A embaixada brasileira tem de zelar pelas leis que determinam a não intervenção nos assuntos internos dos países. O Brasil, há 200 anos, tem respeitado essa lei da soberania dos países e de não-intervenção", acrescentou.

Parte do desconforto de Sarney com a presença de Zelaya na embaixada em Tegucigalpa deve-se ao envolvimento do presidente venezuelano, Hugo Chávez, no episódio. Atribui-se ao líder venezuelano a articulação que culminou com o "desembarque" do presidente deposto na sede diplomática do Brasil.

No início do mês, o presidente do Senado aprovou no plenário da Casa um voto de censura contra o presidente da Venezuela. Foi uma resposta ao requerimento da Comissão de Relações Exteriores do Senado, que repeliu as medidas antidemocráticas tomadas por Chávez, entre elas a limitação à liberdade de imprensa.

COLABOROU CAROL PIRES, DE BRASÍLIA