Título: Ação do Brasil agrava impasse, dizem hondurenhos
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2009, Internacional, p. A15

Ao acolher o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, em sua embaixada em Tegucigalpa, o Brasil acabou responsabilizado pelas medidas de exceção adotadas pelo governo de facto de Honduras no final de semana. Até políticos independentes e cidadãos brasileiros em Tegucigalpa reclamaram da atuação do País.

Logo depois de criticar o decreto executivo PCM-M 016-2009, que impôs o estado de sítio, o comissário de Direitos Humanos hondurenho, Ramón Custódio, declarou que a interferência do Brasil na crise política deu ao governo de facto o argumento para suspender direitos individuais e coletivos.

"Quero agradecer ao senhor presidente (Luiz Inácio) Lula da Silva por nos ter colocado nesta situação", ironizou Custódio ao Estado.

A responsabilização do Brasil está na base da justificativa governo de facto para a suspensão de direitos individuais. Nos últimos dias, o chanceler Carlos López Contreras afirmou que a decisão do presidente Lula de proteger Zelaya transformou a embaixada brasileira em uma "plataforma política da insurreição".

Contreras disse que o Brasil foi "longe demais" e expôs Honduras a uma "situação de instabilidade".

INTERFERÊNCIA

Mas, ontem, mesmo políticos afastados das correntes oficiais argumentavam que o governo brasileiro havia desrespeitado um princípio básico do direito internacional, o da não interferência em assuntos internos de outras nações, o que teria aprofundado a crise local.

"Não acredito que o governo brasileiro tenha agido de má-fé, mas sua intromissão levou Honduras a uma situação dramática", afirmou a candidata independente à prefeitura de Tegucigalpa, Dóris Gutiérrez.

Para a administradora de empresas Sandra Estrada, brasileira que vive com sua família em Honduras há 15 anos, o Brasil não deveria ter se metido na questão e, agora, tem a obrigação de tirar Zelaya da embaixada brasileira e do país. Sandra faz parte da pequena comunidade de 500 brasileiros que vivem em Honduras - na maioria, mulheres casadas com hondurenhos.

"O Brasil jamais aceitaria uma intervenção externa em seus assuntos. Essa é uma questão que se tem de respeitar", afirmou. "O governo Lula enfiou os pés pelas mãos. Fez de tudo, menos diplomacia", completou.