Título: FMI eleva projeções para o PIB mundial
Autor: Landim, Raquel ; Pinto, Lucinda
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2009, Economia, p. B9

Previsão para 2010 sobe de 2,5% para 3% e projeção de queda de 2009 é atenuada, caindo de -1,3% para -1%

O Fundo Monetário Internacional (FMI) elevou sua projeção de crescimento da economia mundial em 2010 para 3%, antecipou ontem, em São Paulo, o diretor adjunto Murilo Portugal. A estimativa anterior, divulgada em julho, estava em 2,5%.

O órgão também alterou a previsão para 2009. Em vez da queda de 1,4% projetada anteriormente, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial deve se contrair 1%. Os dados oficiais serão divulgados quinta-feira, em Istambul, na Turquia, durante as reuniões preparatórias para o encontro anual do FMI e do Banco Mundial.

Portugal disse que o otimismo é resultado do desempenho dos países emergentes, mas não quis adiantar dados sobre o Brasil e se limitou a dizer que o País "vai crescer mais rápido que o mundo". A estimativa anterior do Fundo para o PIB brasileiro é de alta de 2,5% em 2010. As projeções do mercado já apontam para 5%.

"A recuperação da economia global está sendo mais forte do que inicialmente prevíamos. As políticas fiscais dos países estão dando resultado", disse Portugal, que participou do Congresso da Indústria, realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O diretor adjunto do FMI ressaltou, no entanto, que ainda há dúvidas sobre o vigor e a sustentabilidade da recuperação, porque o desemprego vai continuar subindo nos países ricos em 2010 e os bancos ainda não retomaram totalmente o crédito ao setor privado.

Além disso, a recuperação até agora ocorreu por fatores temporários, como recomposição de estoques e os efeitos dos pacotes fiscais. "Esses dois elementos vão perder força. O risco é que a recuperação seja fraca."

O FMI recomenda que os países mantenham as políticas de estímulo ao crescimento. "Tivemos muitos casos de recuperação abortada no passado, como, por exemplo, o Japão", disse Portugal. Segundo ele, o FMI ainda não vê risco imediato de inflação. "São dois riscos diametralmente opostos, mas o de inflação é menor do que a recuperação não ser sustentável."

Portugal adiantou ainda à plateia de empresários brasileiros que o Fundo preparou um estudo sobre o impacto de crises econômicas no crescimento dos países no médio prazo. A análise, que também será divulgada esta semana, avaliou o desempenho de diferentes economias após 88 crises financeiras nos últimos 40 anos.

A conclusão é que, em média, o PIB per capita dos países cai 10 pontos porcentuais ao longo de sete anos após a crise. "O país volta a crescer com as mesmas taxas, mas com base menor." Isso ocorre porque o emprego e a produtividade demoram para reagir.

No entanto, 1/4 dos países pesquisados não teve perdas de PIB per capita, porque adotou políticas eficazes e vinha de condições iniciais mais favoráveis antes das crises, como crescimento forte e inflação baixa.

Embora não seja hora de retirar as políticas de estímulo, Portugal disse que "não é cedo para planejar a saída". Na sua avaliação, a crise teve um custo fiscal elevado para os países ricos.

O FMI aponta que a dívida pública das nações desenvolvidas vai saltar de 75% do PIB em 2008 para 90% em 2009 e 118% em 2014. "É uma situação que não tem precedentes em tempos de paz", disse o diretor. "Só o crescimento não será suficiente para reequilibrar as contas. Os países vão precisar aumentar o superávit primário."

Ele também voltou a repetir o apelo do FMI por um rebalanceamento da demanda global, com os Estados Unidos poupando mais e países exportadores, como a China, estimulando a demanda interna.

NÚMEROS

3 % é a nova previsão do FMI para o crescimento mundial em 2010

-1% é a nova previsão do FMI para o recuo do PIB mundial este ano

118 % do PIB é a previsão do FMI para a dívida pública das nações desenvolvidas em 2014