Título: Artistas querem Polanski livre
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/09/2009, Vida&, p. A19

Cineastas europeus endossam abaixo-assinado; França e Polônia pedem que Casa Branca intervenha no caso

Intelectuais europeus mobilizaram-se pela liberdade do cineasta franco-polonês Roman Polanski, detido no sábado no aeroporto de Zurique, na Suíça, a pedido da Justiça dos Estados Unidos. Manifestos com o slogan "Libertem Polanski" foram organizados na França e na Suíça contra a extradição do artista.

Polanski, de 76 anos, tem contra si um mandado de prisão emitido em 1977 pela Justiça do condado de Los Angeles. A acusação é de que ele estaria envolvido, à época, em um estupro envolvendo uma jovem de 13 anos. Pelo episódio, ele chegou a ser preso por 42 dias nos anos 70, nos EUA. A vítima, Samantha Geimer, não sustenta queixas e pede a extinção do processo. Dois abaixo-assinados foram lançados, em Paris e Berna. O manifesto tem o apoio de cineastas como Costa-Gravas, Wong Kar-Wai, Ettore Scola, Guiseppe Tornatore e Bertrand Tavernier, entre outros.

As críticas mais duras são à ação da polícia, que se aproveitou de uma homenagem a Polanski, feita pelo Festival de Zurique, para prendê-lo. "Parece inadmissível que uma manifestação cultural internacional, que homenageava um dos maiores cineastas contemporâneos, possa ser transformada em armadilha policial."

O movimento tem apoio oficial: os ministros das Relações Exteriores da França, Bernard Kouchner, e da Polônia, Radoslaw Sikorski, informaram terem pedido por escrito a interferência da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton. O Departamento de Estado americano não confirmou o recebimento do pedido dos ministros e não quis comentar o caso.

A incredulidade com a prisão de Polanski é maior na Europa porque o cineasta frequenta a Suíça pelo menos desde 1978, afirmou seu advogado, Hervé Temine. O diretor de O Bebê de Rosemary e O Pianista tem até um chalé na cidade de Gstaad, próximo a Berna. "Não esperávamos de forma alguma esta prisão", argumentou o advogado de Polanski.

A revelação de que o cineasta tem uma propriedade no país levou a imprensa suíça a ridicularizar a conselheira Federal de Justiça, Eveline Wildner-Shlumpf. Ela havia afirmado anteontem que a polícia "não tinha outra alternativa" a não ser prender Polanski. O diário Le Matin levantou suspeitas de que o cineasta esteja sendo entregue aos EUA em sinal de boa vontade. A Casa Branca pressiona pelo fim do sigilo bancário na Suíça e exige que o banco UBS, o maior do país, divulgue o nome de 4,4 mil de seus clientes, suspeitos de fraude fiscal.