Título: Estratégia pode levar gigante a esmagar a concorrência
Autor: Friedlander, David; Tereza, Irany
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/09/2009, Economia, p. B1

A política de apoio à formação de grandes companhias carrega junto uma contradição. A empresa ganha músculos para competir lá fora, mas depois pode se tornar tão forte que acaba esmagando a concorrência no mercado doméstico. "É o lado amargo da globalização", diz o economista Antonio Corrêa de Lacerda, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. "Esse fenômeno aconteceu há seis ou sete anos com o aço plano, que alcançou lá fora o valor de US$ 530. O governo teve de subsidiar o setor siderúrgico para garantir o fornecimento aqui", afirma o professor Rui Quintães, do Ibmec-RJ.

"É um dilema com o qual todos os países globalizados convivem", afirma Lacerda. "Mas não é por isso que vamos ficar com medo de levar adiante o processo de consolidação.A saída para isso é abrir a economia. Primeiro você cria os grandes grupos, depois abre a economia para os importados."

Quintães lembra, também, que o País possui um aparato bem montado de organismos de defesa da concorrência, que acompanham os movimentos do mercado para evitar abusos. Ele cita o caso exemplar da antiga União Soviética, apinhada de monopólios estatais, o que "provocou a sua falência", diz, referindo-se à cadeia produtiva.

Quanto ao consumidor final, a situação é tão mais preocupante quanto aparentemente insolúvel, na opinião dele. "Se a gente pudesse achar um adjetivo para o usuário final seria pobre coitado, conhecido genericamente como "elemento de demanda". Aí, tanto faz se ele é brasileiro, chinês ou americano. O resultado negativo é o mesmo."

O economista chama a atenção para o fato de a concentração de mercado ser definida mais pela capacidade de um grupo empresarial de formar preços de mercado do que exatamente pela fatia que ele detém no setor. "A capacidade de precificação define os monopólios e oligopólios", diz. COMENTÁRIOS