Título: Aliados de Micheletti buscam saída
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2009, Internacinal, p. A12

O impasse em Honduras, agravado com a volta em segredo ao país do presidente deposto Manuel Zelaya no dia 21, começa a dividir os aliados do governo de facto comandado por Roberto Micheletti. Depois de críticas de parlamentares e dos candidatos presidenciais à decretação do estado de sítio no domingo, empresários e até o comandante militar do regime deixaram claro ontem que a solução passa pelo diálogo. O governo Micheletti, por sua vez, voltou a dar sinais de que vai revogar as medidas de exceção.

Expondo a divisão no governo de facto, empresários hondurenhos apresentaram ontem um plano para restituir Zelaya ao cargo, com poderes limitados, como prevê o Acordo de San José - proposto pelo presidente costa-riquenho, Oscar Arias. Mas Zelaya teria de responder aos 18 processos que acumula na Justiça. Segundo o empresário Adolfo Facussé, Micheletti retornaria à Câmara dos Deputados como parlamentar vitalício. A proposta foi debatida em uma reunião entre empresários e o embaixador dos EUA em Tegucigalpa, Hugo Llorens.

O plano contempla ainda o envio de uma força militar ou policial - por parte de Canadá, Panamá e Colômbia - para garantir o cumprimento do acordo. Essa saída, explicou Facussé, impediria que o país acabasse tutelado pela ONU.

O chefe do Estado-Maior Conjunto de Honduras, general Romeo Vásquez Velásquez, disse que as Forças Armadas apoiam o diálogo, mas se negou a dizer se os militares aceitariam Zelaya de volta à presidência. A fórmula empresarial, entretanto, não parece agradar às Forças Armadas, que são hoje o principal pilar do governo de facto. O general assegurou que os militares se mantêm fiéis à Constituição e à sociedade e não foram os articuladores do golpe que derrubou Zelaya. "Se tivesse partido das Forças Armadas, eu seria o chefe de Estado. Mas não sou e estou subordinado aos três poderes."

Em outro sinal de recuo, o governo de facto avisou a Organização dos Estados Americanos (OEA) que deverá suspender o decreto que instaurou o estado de sítio. O mesmo compromisso foi enviado a Arias, um dos mediadores da crise hondurenha, que estava ontem em Miami. A emissão do decreto - que permitiu o fechamento de meios de comunicação e impediu manifestações pró-Zelaya (mais informações na página 14) - desencadeou críticas de aliados de Micheletti.

"Para mim, será uma surpresa se o decreto não for retirado. As pessoas (do governo de facto) que me deram essa notícia são respeitáveis", afirmou o chileno John Biehl del Río, único dos cinco representantes da OEA autorizado pelo regime a desembarcar em Honduras no domingo - os demais foram deportados.

Biehl atua desde então como facilitador das negociações, acompanhando encontros entre diferentes segmentos políticos, econômicos e a Igreja de Honduras para discutir uma saída para a crise. Ele também prepara o terreno para a chegada, na sexta-feira, de uma missão prévia da OEA, que será composta pelos mesmos representantes deportados pelo governo de facto. No dia 7, conforme convite de Micheletti, chanceleres de países da organização e seu secretário-geral, José Miguel Insulza, deverão desembarcar em Tegucigalpa para buscar uma solução.

As apostas recaem no reconhecimento internacional dos resultados das eleições presidenciais de 29 de novembro e do novo governo, que tomará posse em 27 de janeiro. A questão-chave é definir se o processo eleitoral ocorrerá com a presença de Zelaya na presidência ou se poderá ser conduzido pelo governo de facto.

FISSURAS ENTRE ALIADOS

Empresários - Fizeram uma proposta para restituir Zelaya, mas com poderes limitados

Militares - O chefe das Forças Armadas de Honduras disse apoiar o diálogo para a solução da crise Congresso - Parlamentares se opuseram ao estado de sítio porque ele inviabilizaria as eleições Candidatos - Em reunião com Zelaya, prometeram convencer Micheletti a dialogar