Título: Amorim diz que negou avião a Zelaya
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/09/2009, Internacional, p. A14

Segundo chanceler, presidente deposto teria solicitado, sem sucesso, ajuda do Itamaraty para voltar a Honduras O ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem que a presença de Manuel Zelaya na embaixada brasileira, apesar dos problemas que causou, acabou tendo um efeito prático: obrigar o governo de facto a aceitar o início do diálogo que pode levar a uma solução para a crise em Honduras.

A declaração de Amorim foi feita durante audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado. Ele justificou o abrigo a Zelaya: "O que iríamos fazer? Pô-lo na rua para ser preso, morto ou ir para a montanha organizar a guerrilha?"

Demonstrando tensão em alguns momentos, Amorim disse que o Brasil está empenhado em evitar mortes e tem obtido êxito nisso. "Da parte dos zelaystas não há violência. As mortes que ocorreram na semana passada foram causadas pela repressão dos golpistas."

O ministro reiterou que o Brasil não teve participação na volta de Zelaya a Tegucigalpa. E acrescentou que, no momento, não interessa saber quem esteve por trás da ação. Para reforçar suas palavras de que o Brasil nada teve a ver com a volta de Zelaya a Honduras - e de que ele e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva só ficaram sabendo que Zelaya estava em Tegucigalpa meia hora antes de ele se apresentar à embaixada -, Amorim citou um caso ocorrido três meses atrás, logo depois do golpe de Estado.

"Por telefone, Zelaya pediu que arranjássemos um avião para ele voltar a Honduras. Eu neguei. Depois, informei o presidente Lula." Amorim disse que nem deveria revelar esse segredo, mas o fez para dar mostras de que não estava escondendo nada.

Ele disse que, no dia 2, uma missão precursora da OEA irá a Tegucigalpa e, no dia 7, chegará o secretário-geral José Miguel Insulza, além de chanceleres de outros países da América. Amorim disse que, embora reconheça o teor emocional do momento, o Brasil tem feito seguidos apelos para que Zelaya evite manifestações políticas no interior da embaixada. Mesmo assim ele voltou ontem a convocar um protesto do local. O chanceler também afirmou ter pedido ao presidente deposto que reduza o número de seus partidários que permanecem na sede da missão.

Os senadores José Agripino Maia (DEM-RN), Heráclito Fortes (DEM-PI), Sérgio Guerra (PSDB-PE) e Álvaro Dias (PSDB-PR), além do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), insistiram em tirar de Amorim algum tipo de condenação ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Este se gabou de saber da volta de Zelaya e, de acordo com informações que circulam no governo, foi o responsável por enviar Zelaya à embaixada brasileira. Em nenhum momento, porém, Amorim citou o nome de Chávez nem deixou o assunto se prolongar.

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