Título: Emergentes terão mais poder no FMI
Autor: Mello, Patricia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/09/2009, Economia, p. B1

Os países do G-20 concordaram ontem em transferir 5% das cotas do Fundo Monetário Internacional (FMI) aos países emergentes, anúncio festejado pelo governo brasileiro, que vinha pressionando por uma reforma nas instituições multilaterais. No Banco Mundial, os países receberão 3% das cotas. Mas o Brasil teve de ceder a uma linguagem mais tortuosa no comunicado final da cúpula, que dilui um pouco o ganho de poder dos emergentes nas instituições.

O comunicado final incluiu também regras para o sistema financeiro, mas com menos detalhes específicos para acomodar as divergências entre europeus e americanos . Os países focaram em temas menos controversos, como manter as medidas emergenciais. A proposta americana de estabelecer níveis de capitalização nos bancos foi incluída apenas de forma geral e também não entraram limites fixos nos bônus dos executivos, essa uma reivinidicação dos franceses e alemães.

Apesar das divisões entre os países, o resultado final do G-20 teve uma conclusão clara: o avanço das nações emergentes. O G-20 vai substituir de maneira permanente o G-7, bloco dos países mais ricos do mundo, como principal fórum de discussões econômicas globais.

O grupo concordou em voltar a se reunir em junho de 2010 no Canadá e, em novembro, na Coreia do Sul. Depois disso, pretende se reunir uma vez por ano.

O avanço dos emergentes ficou claro na nova distribuição de cotas, que determinam quem tem mais influência no FMI. No comunicado, o G-20 afirma estar comprometido com "uma transferência nas cotas do FMI pelomenos 5% de países sobrerrepresentados para países sub-representados".

Esse avanço, porém, tem um limite. O governo brasileiro admite que houve uma "pegadinha" na linguagem. Não será uma simples transferência de poder de países ricos para países pobres. Países emergentes como Argentina e Arábia Saudita, que estão sobrerrepresentados, podem perder poder, enquanto países ricos como Espanha, que está subrepresentada (em relação a seu peso na economia mundial) podem ganhar poder.

Na disputa entre europeus, que resistiam às mudanças, e emergentes, os EUA ajudaram muito, disse ao Estado o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Os EUA ajudaram a convencer os europeus a concordarem com a mudança no FMI e no Banco Mundial.

Mantega comemorou a aprovação de um mecanismo de ajustes de desequilíbrios globais, que visa a corrigir superávits excessivos de nações como China e Japão e Alemanha, e déficits excessivos como dos EUA e Grã-Bretanha. "Conseguimos subordinar o Fundo ao G-20, quem examinará as políticas serão os ministros da Fazenda dos países, o que fortalece o G20", disse.