Título: Potências divergem sobre Irã
Autor: Sanger, David E.
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2009, Internacional, p. A15

Suposto plano para bomba nuclear divide rede de inteligência

Quando o presidente dos EUA, Barack Obama, reuniu-se com os líderes de Grã-Bretanha e França para denunciar o Irã por ter uma usina nuclear secreta, as potências ocidentais deram a impressão de falarem todas a mesma língua. Mas, por trás da demonstração de união, há um debate contínuo entre espiões americanos, alemães e israelenses sobre as tentativas clandestinas de Teerã de desenvolver uma ogiva nuclear.

Os israelenses, que fizeram ameaças veladas de um ataque militar, dizem acreditar que o Irã tenha retomado os esforços para "transformar em armamento" seu material nuclear.

Os alemães afirmam acreditar que o desenvolvimento de uma bomba atômica nunca foi suspenso.

Enquanto isso, em debates a portas fechadas, as agências americanas permaneceram firmes na sua conclusão de que, apesar de desejar a posse de uma bomba, o Irã paralisou o desenvolvimento em 2003 e provavelmente não retomou a iniciativa.

"São diferenças no modus operandi que nos levam a conclusões díspares", disse Rolf Mowatt-Larssen, especialista nuclear que já trabalhou para a CIA. "Tratam-se de diferentes avaliações sobre os mesmos dados."

A discussão atual parece uma imagem invertida dos debates na véspera da guerra do Iraque. Desta vez, os americanos fazem interpretações mais cuidadosas que os europeus. As divergências mostram a percepção que cada país tem do grau de iminência da ameaça representada pelo Irã.

Se Obama for capaz de convencer Israel de que a descoberta da instalação secreta de Qom foi um retrocesso significativo para os esforços iranianos para obter a bomba, pode ser que consiga ganhar tempo.

O enriquecimento do urânio é apenas uma parte do processo de fabricação de uma bomba nuclear, apesar de ser a mais difícil. Antes de ser uma ameaça real, um país ainda precisa construir uma ogiva e um sistema confiável para transportá-la.