Título: Declarações tinham Mesquita como alvo
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2009, Economia, p. B1

Diretor de Política Econômica do BC foi o responsável por Relatório de Inflação

Os ataques aos "terroristas fiscais" disparados ontem pelo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, embora endereçados a "alguns analistas" e à "oposição", miram o Banco Central.

A Fazenda não gostou nem um pouco do tom do relatório de inflação, divulgado na sexta-feira pelo Banco Central, que chama a atenção para o impacto inflacionário das medidas fiscais (aumento de gastos e desonerações) adotados pelo governo para enfrentar a crise.

O foco dos ataques é o diretor de Política Econômica, Mário Mesquita, responsável pela explicação do relatório. Para o mercado, Mesquita passou a mensagem de que haverá aumento das taxas de juros ainda no primeiro semestre de 2010, como indicou, por exemplo, o banco JP Morgan.

A reação do BC foi na mesma intensidade, mas em outra direção: uma crítica à postura excessivamente defensiva do Ministério da Fazenda. Por essa leitura, a equipe da Fazenda diz que o melhor seria não divulgar informações sobre o impacto do aumento dos gastos porque o mercado traduz como uma mensagem de descontrole da inflação e consequente aumento das taxas de juros. "O Ministério da Fazenda e o mercado estão errados", disse uma fonte financeira à Agência Estado.

Na visão do Banco Central, a Fazenda erra quando fica na defensiva e entra no discurso de negar que a expansão fiscal gera inflação. Seria o mesmo que o BC negar que o movimento de queda da taxa de juros (a Selic foi reduzida em 5 pontos porcentuais desde setembro do ano passado) provoca inflação. "Não se pode negar o óbvio. Não precisa mentir. Não precisa fazer rolo", disse essa fonte.

O que esse debate esconde é a possibilidade concreta de o Banco Central aumentar as taxas de juros. O Banco Central tem claro que, neste momento, "é tolice" falar em alta dos juros. "Não será preciso aumentar a taxa de juros porque a inflação está na meta", insiste a fonte, ao lembrar que a queda da Selic é, também, fator de pressão inflacionária. "O relatório de inflação mostra que a inflação está na meta", reage a fonte, lembrando que o documento afirma que houve pressão inflacionária com as medidas de estímulo fiscal, mas a projeção de inflação para o próximo ano é de 4,4%, ante a meta de 4,5%.

Mas o fato é que o documento do BC deixou a cúpula da Fazenda irritada, tanto que o ministro Guido Mantega autorizou a entrevista de Barbosa. Essa insatisfação foi reforçada pelo rumor de que o BC já estaria preparando o terreno com o presidente Lula para subir juros no início do ano que vem.

"Isso é mentira", garante um interlocutor do BC. O desconforto da Fazenda com o Banco Central se deveu também à avaliação de que o relatório trimestral, um dos instrumentos mais importantes de comunicação do BC com o mercado, serviu para endossar as críticas à atual gestão, exacerbando avaliações de supostos efeitos negativos da política fiscal, sem a devida ênfase aos efeitos positivos que essa política teve em tirar o País rapidamente da crise.