Título: Saída de Mesquita do BC é dada como certa
Autor: Assis, Francisco Carlos de; Froufe, Célia
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/10/2009, Economia, p. B4

Diretor de Política Econômica já não esconde que está ""de malas prontas""

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Mário Mesquita, não esconde mais de seus ex-colegas do mercado financeiro que está "de malas prontas" para sair da instituição. A possível candidatura do presidente Henrique Meirelles, em março do ano que vem, não é o principal motivador para Mesquita se afastar, mas é um peso a mais nessa direção.

Rumores sobre a saída do diretor já tomam conta do mercado há alguns dias, alimentados pela informação de que Meirelles já estaria até mesmo sondando entre os analistas possíveis substitutos para assumir o cargo. Ontem, as especulações ganharam mais força após a leitura das declarações do presidente do Banco Central.

Indagado pela Agência Estado ao chegar em Goiânia para se filiar ao PMDB se Mesquita deixaria a diretoria colegiada da autoridade monetária, Meirelles foi lacônico: "Não há expectativa, no momento, sobre a saída de Mário Mesquita". Os analistas frisaram o advérbio de tempo "no momento".

A colocação foi interpretada por economistas do mercado como se Mesquita e Meirelles já tivessem feito um acerto e a saída do diretor seria apenas uma questão de tempo até que "um bom nome" fosse encontrado para dar continuidade ao trabalho, como aliás ocorreu em outras trocas de diretorias no Banco Central.

À ESPERA DE MEIRELLES

"O Mário (Mesquita) já deve estar com as malas prontas para sair do Banco Central. O problema é que, quando se está em um cargo público, você precisa esperar a sinalização do seu chefe para sair", disse uma fonte próxima do diretor. "Se o presidente Meirelles piscar o olho ele sai", arrisca-se a prever essa fonte.

Mesquita tem dito aos ex-colegas que se sente cansado. Cansado de estar longe da família e de estar na linha de frente para receber constantes críticas de empresários. O diretor tem consciência de que passou pela instituição num dos melhores momentos possíveis da atualidade em termos de experiência para um profissional de sua área. Mesquita, ao lado de Meirelles e do diretor de Política Monetária, Mário Torós, enfrentaram de perto a crise financeira internacional e tomaram decisões que ajudaram o País a sair da turbulência antes de muitos outros. "O Mário (Mesquita) está louco para sair."

A rede de argumentos para justificar a apatia de Mesquita para continuar na diretoria do Banco Central inclui o de que ele se afastaria do BC para salvar a sua biografia. Assim como Pelé, no futebol, Mesquita sairia no auge de sua atuação. Não estaria entre os diretores no caso de a credibilidade da instituição ser afetada com o suposto afastamento de Meirelles, em abril de 2010, caso defina sua candidatura a um cargo eletivo.

"O Mário sairá mesmo, mas mais por um sentimento de dever cumprido do que por qualquer outra coisa. O desgaste (com a rotina de trabalho) é muito grande", avalia outro economista.

Sintomático também foi, na percepção desses analistas, o discurso de Mesquita durante a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), de que o Banco Central é uma instituição sólida e que não está embasada em pessoas. "Para mim, isso já é uma forma de preparar o mercado para a troca de algumas peças."

GASTOS PÚBLICOS

Esses profissionais consultados descartam que a ênfase dada pelo diretor aos gastos públicos, , também no dia da divulgação do RTI, teria sido decisiva. "Isso pode ter sido mais um ingrediente, mas o processo todo já vem se arrastando", comentou um dos analistas, lembrando que Mesquita passou por "momentos muito mais difíceis" no Banco Central, como em ocasiões em que teria sido voto vencido no Comitê de Política Monetária (Copom).

Uma terceira fonte salientou que, assim como Mesquita, Torós também não estaria mais tão confortável nos quadros do Banco Central como no começo. "É fim de governo e ninguém quer ficar para apagar as luzes. Além disso, tem a saída de Meirelles... não vão se queimar depois de um trabalho tão bom por causa de uma coisa que nem diz respeito a eles."

Para esse economista, o que Mesquita tem mesmo é um perfil de trabalhador do setor privado. "Ele sempre foi (do setor privado) e acha que agora está na hora de voltar", disse. "Com o sentimento de dever cumprido, ele quer mais é voltar para a iniciativa privada", concluiu outro colega.