Título: Brasileiro não pode deixar embaixada
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2009, Internacional, p. A12

Golpistas vetam saída de diplomata que se reveza com chefe da missão

O diplomata brasileiro Lineu Pupo de Paula está impedido de deixar a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa desde ontem, sob pena de não poder mais retornar ao edifício. A proibição foi imposta pelo fato de o Brasil não reconhecer o governo de facto de Honduras desde o golpe de Estado que derrubou o presidente Manuel Zelaya, em 28 de junho. A chancelaria hondurenha exigiu do Itamaraty o envio de uma nota diplomática para acatar o pedido feito por De Paula para poder entrar e sair da embaixada.

O chanceler do Brasil, Celso Amorim, rejeitou a hipótese de encaminhar qualquer texto formal, com timbre oficial, a Tegucigalpa e já afirmou em diversas ocasiões que não reconhece o governo de facto.

Enviado pelo Itamaraty na sexta-feira, De Paula assumiu a responsabilidade de revezar-se com o encarregado de negócios da embaixada, Francisco Catunda Resende, em turnos de 24 horas, enquanto Zelaya e cerca de 50 colaboradores permanecem sob abrigo do governo brasileiro. Como possui passaporte diplomático em Honduras, Catunda poderá ingressar e sair do prédio sem problemas.

Com a chegada de Zelaya ao prédio, no dia 21, a administração da embaixada passou a funcionar na casa de Catunda.

Ontem, o presidente de facto de Honduras, Roberto Micheletti, declarou que compete exclusivamente a Zelaya a decisão de retirar-se do prédio e, portanto, não forçará sua saída.

Em entrevista à agência Reuters, Micheletti suavizou ontem sua ameaça contra a embaixada do Brasil e disse que não tomará "nenhuma medida adicional" depois de vencido o prazo que seu governo fixou para que o Brasil defina o status de Zelaya. "Não vamos fazer nada que possa romper os tratados internacionais que temos", disse Micheletti. "Eles podem ficar ali o tempo que quiserem. O único que necessitamos é que o Brasil garanta que não permitirá que Zelaya faça campanha política em sua sede."

Nos últimos dias, cerca de 14 pessoas deixaram a embaixada, entre elas o filho caçula de Zelaya, José Manuel. Mas o presidente deposto corre o risco de, se deixar o edifício, ser preso para responder a 18 processos movidos contra ele na Justiça.

Apesar do ultimato do governo de facto, que deu prazo até terça-feira para os diplomatas brasileiros deixarem a embaixada e o país, De Paula não pretende abandonar o local. Catunda informou que não sairá de Honduras nem deixará de ir à embaixada.