Título: País mantém contato informal com regime
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2009, Internacional, p. A12

Embora Brasil não reconheça Micheletti, canais de diálogo não se fecharam

Mesmo sem reconhecer o governo de facto de Honduras, o Brasil manteve canais de conversações com o regime de Roberto Micheletti. Como o Brasil retirou seu embaixador de Tegucigalpa, os contatos passaram à condição de informais e foram assumidos por funcionários do segundo escalão.

Nestes três meses, quando havia questões mais importantes, o Brasil recorria à embaixada dos EUA, que não retiraram de lá o embaixador. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, começou a só se reportar à Organização dos Estados Americanos (OEA), sempre que precisou falar alguma coisa sobre Honduras.

A ordem para que o governo de facto não seja reconhecido é tão severa que os funcionários da embaixada brasileira não podem nem sequer assinar o "ciente" em papeis que tenham timbre que lembre o regime de Micheletti. Uma assinatura poderia ser interpretada, de alguma forma, como reconhecimento.

De acordo com informações do governo brasileiro, nos três meses da deposição de Manuel Zelaya para cá, coube ao encarregado de negócios da embaixada, Francisco Catunda Resende, manter os contatos informais. Sempre que precisou de alguma coisa do governo de facto, Catunda recorreu a uma servidora do segundo escalão da diplomacia hondurenha que já mantinha vínculos com a embaixada brasileira em tempos de outros governos.

Essa prática nunca mudou. Catunda seguiu sua rotina de guardião da embaixada por quase três meses, com quatro funcionários brasileiros e oito hondurenhos. Com a chegada de Zelaya e seus seguidores, dia 21, o conforto foi embora e a tranquila vida de Catunda mudou radicalmente.

Do Brasil, Amorim concluiu que um funcionário apenas não suportaria tanta carga. Ele, então, designou o ministro-conselheiro Lineu Pupo de Paula, que serve na OEA, para dividir com Catunda a tarefa de cuidar da embaixada.

Mas logo surgiu um problema: como o Brasil não reconhece Micheletti e com ele não mantém relações diplomáticas, como pedir autorização para De Paula entrar em Honduras? Catunda resolveu a questão. Foi atrás da velha amiga do segundo escalão da chancelaria hondurenha. Logo veio a autorização para que De Paula entrasse em Honduras. Até a semana passada tinham licença para entrar e sair. Eles mesmos cuidavam de levar comida e outros gêneros para as cerca de 50 pessoas que permanecem na embaixada.

EMBAIXADOR

O Brasil vai trocar o embaixador em Honduras quando a crise for resolvida. Mario Roiter, que estava no Kwait, ocupará o posto que era do embaixador Brian Michael Fraser Neele.

Ele, que estava de férias quando houve o golpe, nunca mais voltou a Honduras, terminou o tempo de serviço em Tegucigalpa. Brian irá para a representação diplomática de Antígua e Barbuda, no Caribe.