Título: Micheletti rejeita proposta de aliados
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2009, Internacional, p. A12

Plano de empresários previa volta de Zelaya; líder de facto diz que é cedo para iniciar diálogo e revogar estado de sítio

Em meio ao diálogo em curso para a solução da crise hondurenha, o presidente de facto, Roberto Micheletti, endureceu ontem seu discurso. Ele rechaçou a proposta de empresários, que prevê o retorno à presidência de Manuel Zelaya, deposto por um golpe de Estado em 28 de junho, e recuou da intenção de revogar o decreto que impôs o estado de sítio no país desde o final de semana, apesar de ter levantado o toque de recolher. À imprensa, Micheletti afirmou que as negociações para a solução da crise política de Honduras "ainda não começaram", advertindo que estrangeiros "não devem se meter" no assunto. "Não chegou ainda a hora de sentarmos (à mesa de negociação). O que há são comissões de diálogo, que talvez encontrem uma definição em primeira instância", afirmou.

Logo depois de ouvir um apelo dos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em favor da retirada do decreto, Micheletti disse que, antes de tomar uma decisão, ouvirá a Corte Suprema de Justiça e se reunirá com seus ministros. Ontem, o governo de facto valeu-se das prerrogativas do texto para desocupar um prédio público invadido há três meses por camponeses favoráveis a Zelaya e dispersar um protesto em favor da Rádio Globo, canal de linha zelaysta fechado três dias atrás (mais informações na página 13).

O governo de facto informou anteontem o representante da Organização dos Estados Americanos (OEA), John Biehl Del Río, que revogaria o decreto. Biehl e o monsenhor Juan José Pineda, bispo auxiliar de Tegucigalpa, tentavam ontem abrir o diálogo entre o governo de facto e Zelaya, com o envolvimento de empresários, candidatos à presidência e congressistas, tendo como base o Acordo de San José, negociado pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias.

"Creio que um ponto de consenso continua a ser o (plano de) San José. O que se fez em San José foi uma proposta e creio que deveríamos falar agora de um San José 2", defendeu Pineda à agência de notícias EFE.

Apesar dos movimentos contraditórios do governo de facto, a OEA avaliava ontem que as condições de diálogo já estão dadas e, na quarta-feira, a missão chefiada por seu secretário-geral, José Miguel Insulza, iniciará as negociações, informou o embaixador do Brasil na OEA, Ruy Casaes. Biehl completou que há "vontade clara" dos dois lados de dialogar, o que deve ocorrer na próxima semana, e só uma solução de consenso levará a comunidade internacional a abolir suas sanções contra Honduras.

Mas o consenso parece ainda longe. Zelaya, em princípio, aceita o Acordo de San José. Mas o governo de facto ainda não se dobrou a seu termo central - o retorno do presidente deposto à chefia de Estado, com poderes limitados, até a posse de seu sucessor, em 27 de janeiro.

"Por que teria de ser um Acordo de San José 2? Temos de discutir seus 12 pontos, tirar os que causam problemas internos e deixar os que seriam factíveis de reformar", afirmou Micheletti. "Essa é nossa intenção clara e transparente."