Título: 30% dos agricultores não sabem ler
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2009, Economia, p. B12

No campo, 13,2 milhões de pessoas têm pouco ou nenhum acesso à educação e só 3% têm ensino superior

Mais de um terço dos 16,5 milhões de agricultores brasileiros é analfabeto ou não têm estudo. O Censo Agropecuário 2006, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que a baixa escolaridade persiste e 39% dos produtores agropecuários não sabem ler e escrever ou o fazem precariamente, sem estudo formal.

Se forem acrescentados a esse grupo os produtores que têm ensino fundamental incompleto, que correspondem a 43% do total, o censo revela que 80% dos agricultores, ou cerca de 13,2 milhões de pessoas, têm pouco ou nenhum acesso à educação. Somente 3% têm ensino superior.

Para o secretário executivo e ministro interino do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Daniel Maia, esse é um dos dados preocupantes dos resultados apresentados ontem pelo instituto. Foi a primeira vez que o censo mediu escolaridade dos produtores.

De acordo com o levantamento, as Regiões Norte (38%) e Nordeste (58%) concentram os maiores porcentuais de produtores analfabetos ou sem nenhum ano de estudo, enquanto Centro-Oeste (13%) e Sudeste (11%) têm os maiores porcentuais de produtores com ensino técnico agrícola ou ensino médio completo.

O censo revelou também uma redução no ritmo de queda na ocupação no campo na última década: o número de pessoas caiu 7,2% entre 1996 e 2006, mas o recuo foi menor do que o apurado entre os censos de 1985 e 1996, quando chegou a 23,3%.

A pesquisa mostra ainda que houve certa estabilidade no número de ocupados por estabelecimento agrícola, que caiu quase à metade de 1920 a 1940, passando de 9,74 para 5,33 pessoas, ficou estável pelos 10 anos seguintes e, a partir de 1960, oscilou entre três e cinco, chegando a 3,2 no censo divulgado ontem.

A queda no número de ocupados coincide com a continuidade do processo de mecanização no campo. De acordo com o censo, 530 mil estabelecimentos, ou 10,2% do total, tinham tratores, que somavam 820 mil unidades.

O acréscimo de apenas 20 mil tratores nos estabelecimentos agrícolas entre 1996 e 2006 pode parecer pequeno, mas, segundo o coordenador do censo, Antonio Carlos Florido, houve uma substituição de tratores de menor potência (menos de 100 cv) por tratores de maior potência. Os veículos mais fortes (acima de 100 cv) somam 250 mil unidades, 99,4% mais que o total apurado em 1996.

Houve também um forte incremento na produção de culturas mais mecanizadas e de elevada produtividade, como a soja, que apresentou um aumento de 88,8% na produção na última década, alcançando 40,7 milhões de toneladas segundo o último levantamento. Grande parte do incremento esteve localizada na região Centro-Oeste.