Título: FMI eleva projeção para o Brasil e prevê alta de 3,5% do PIB em 2010
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/10/2009, Economia, p. B12

Segundo Fundo, recessão global está acabando, mas recuperação atual é fraca e crédito continuará restrito

A economia brasileira está encolhendo 0,7% neste ano e crescerá 3,5% no próximo, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). As duas projeções são mais favoráveis que as divulgadas em julho, quando se estimava uma contração de 1,3% em 2009 e se previa um crescimento de 2,5% em 2010. A recessão global está acabando, segundo o Panorama Econômico Mundial. Mas o tom de otimismo é logo moderado por uma advertência: a recuperação atual é fraca, o crédito continuará restrito e haverá desemprego ainda por um bom tempo.

A reação tem sido puxada pelo vigoroso desempenho das economias da Ásia e pela estabilização ou modesto crescimento noutras áreas, observam os autores do relatório.

Pelas novas contas, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial deve diminuir 1,1%, em 2009, e aumentar 3,1%, no próximo. Esses números ocultam, no entanto, amplas diferenças entre as condições dos países mais desenvolvidos e as dos demais. A produção das economias mais avançadas deve diminuir 3,4% antes de passar a uma expansão de apenas 1,3%, em 2010.

Na América Latina, houve mais espaço para políticas de combate à crise nos países com regime de metas de inflação (Brasil, Colômbia, Chile, México, Peru e Uruguai). Nesses países, os esquemas de política econômica foram fortalecidos nos últimos anos, segundo o relatório, e seus fundamentos estavam sólidos quando a crise começou.

"A política fiscal em muitos países da região foi contracíclica pela primeira vez em décadas", de acordo com o Panorama. Em outras palavras, pela primeira vez em muito tempo, houve condições para se conceder incentivos sem alimentar a inflação ou criar uma crise cambial. Já no ano passado os economistas do Fundo haviam chamado a atenção para os ganhos de estabilidade em grande parte das economias latino-americanas. Uma recuperação muito lenta da economia mundial poderá, no entanto, dificultar a retomada na região.

A recessão nos grandes mercados é refletida nas estimativas do comércio internacional. O volume do comércio global deve encolher 11,9% neste ano. Com o aumento de 2,5% calculado para 2010, ainda ficará muito longe do cenário observado até 2008. Segundo o relatório, a exportações caíram muito mais por causa da demanda insuficiente do que pela escassez de crédito às empresas.

A questão-chave, segundo os economistas do Fundo, é se a recuperação recém-iniciada será sustentável ou se haverá uma nova recessão quando as políticas anticrise forem afrouxadas a partir do próximo ano. Além disso, o ajuste do setor financeiro permanece incompleto e o crédito poderá ser insuficiente quando as empresas tentarem aumentar a produção. Essas advertências foram acentuadas no Relatório de Estabilidade Financeira Global, divulgado na quarta-feira.

Entre 2010 e 2014, a média do crescimento mundial deverá ficar pouco acima de 4%, segundo o cenário básico do Panorama. Antes da crise a economia global, vinha crescendo 5% ao ano. A reestruturação de bancos e grandes empresas deverá limitar a expansão da atividade. Haverá suficiente capacidade ociosa para a inflação se manter baixa na maior parte do mundo.

Nos Estados Unidos, o desemprego chegou a 9,5%, o nível mais alto desde o começo dos anos 80, e o PIB deve diminuir 2,7% neste ano. Mas há sinais de recuperação neste semestre e as condições financeiras melhoraram mais do que se previa. O aumento do gasto público e a redução de impostos atenuaram a recessão, e a projeção de crescimento para 2010 foi revista de 0,8% para 1,5%. As previsões para a área do euro são menos otimistas: contração de 4,2% em 2009 e expansão de 0,3% no próximo ano. E esses números são maiores que os estimados em julho.

A China se mantém como a grande locomotiva, com expansão calculada em 8,5% e 9% neste ano e no seguinte.

Na América do Sul e no México, as condições permanecem propícias à recuperação. As contas externas pioraram com a crise, mas continuam facilmente administráveis na maior parte dos países. A inflação está em níveis toleráveis na maior parte dos países e deve continuar em queda.

A exceção mais notável é a Venezuela, onde a alta dos preços ao consumidor continua na faixa de 30% ao ano. No caso da Argentina, o relatório reproduz os números oficiais, mas alerta o leitor, em nota, para as avaliações de analistas privados. Segundo eles, a inflação é bem maior que os 5,6% e 5% relativos a 2009 e 2010.

Com inflação contida na maior parte dos países, será possível manter reduzida a taxa de juros até a recuperação econômica se firmar, observam os autores do relatório. O grande risco, segundo alerta o Relatório de Estabilidade Financeira, está nos déficits fiscais acumulados durante a crise, principalmente nas economias avançadas. Se esses desajustes não forem corrigidos a tempo, os juros subirão e os governos empurrarão os tomadores privados para fora do mercado financeiro.