Título: Honduras prepara diálogo, diz OEA
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2009, Internacional, p. A18

Organização vê 'boa vontade' do governo de facto e de Zelaya para negociar com base no Acordo de San José

O governo de facto de Honduras e o presidente deposto Manuel Zelaya aceitaram negociar uma solução para a crise política do país na próxima semana, informou ontem o enviado especial da Organização dos Estados Americanos (OEA) John Biehl del Río.

"Há boa vontade de ambas as partes para um diálogo", afirmou Biehl. "Que não seja estratégia dilatória de ninguém, mas que sirva para resolver a crise", acrescentou. O emissário informou, porém, que Zelaya e o presidente de facto, Roberto Micheletti, não devem se encontrar.

Uma missão prévia da OEA, com seis representantes, desembarcou ontem em Honduras para averiguar o grau de compromisso dos três principais atores políticos com a negociação - o governo de facto, Zelaya e a Frente Nacional de Resistência. O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, e chanceleres de países-membros devem chegar a Tegucigalpa na quarta-feira, para mediar as negociações.

"A OEA tenta criar condições para que os chanceleres possam vir", afirmou Victor Rico, secretário da organização.

Micheletti disse ontem que se reuniu na terça-feira com Insulza na Base Militar de Palmerola, acrescentando que está pronto para sentar e discutir sobre a crise política.

Zelaya foi deposto e expulso de Honduras em 28 de junho, sob acusação de não obedecer a decisões da Corte Suprema, que o impediam de realizar uma consulta popular sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte. Ele voltou a Honduras clandestinamente e desde o dia 21 está abrigado na embaixada do Brasil.

A presença da missão da OEA e o tempo cada vez mais exíguo para a campanha eleitoral de 29 de novembro deverão fazer da próxima semana um período crítico em Honduras.

O "estímulo" dos EUA para que as partes cheguem a um acordo se tornará mais incisivo. Washington espera que o acordo final, com garantias de seu cumprimento, esteja pronto em até duas semanas. Caso contrário, não haverá tempo para a campanha eleitoral - no mínimo, quatro semanas.

Ontem, o embaixador dos EUA em Honduras, Hugo Llorens, reiterou que a comunidade internacional "quer ajudar Honduras a resolver a crise política". Sua declaração confronta-se com o governo de facto, que repudia uma interferência da comunidade internacional.

Llorens acrescentou que a solução passa necessariamente por um acordo com base no Acordo de San José, que prevê o retorno de Zelaya a seu cargo, com poderes limitados, e a anistia a todos os atores políticos da crise. Em especial, a Zelaya e ao presidente de facto.

Ontem, o embaixador americano criticou duramente a edição do decreto que instaurou o estado de sítio desde o final de semana. Micheletti havia prometido à OEA revogá-lo até a quarta-feira, mas deverá mantê-lo até o início da próxima semana. "O decreto feriu liberdades civis de uma maneira que não se via há muito tempo aqui. Por isso, tem de ser imediatamente revogado", disse Llorens.

Ao longo desta semana, Llorens converteu-se em um dos principais motivadores da negociação entre o governo de facto e Zelaya. Recebeu empresários hondurenhos,quatro dos seis candidatos às eleições presidenciais e líderes da Igreja, que tentam igualmente impulsionar a negociação.