Título: Mantega vê ''intenção espúria'' de subir juros
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2009, Economia, p. B3

Em Copenhague, onde participou da escolha da sede das Olimpíadas, Meirelles disse não se sentir alvo das críticas

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que "alguns analistas" estão examinando a questão fiscal "de forma equivocada, com intenções espúrias, querendo elevar a taxa de juros quando isso não é necessário". Mantega se referia às críticas de que a política fiscal do governo estaria criando riscos inflacionários.

O relatório de inflação do BC, publicado na quinta-feira da semana passada, chamava a atenção para o aumento de gastos de custeio do governo, especialmente aquelas despesas que são difíceis de reverter, como aumentos de salários. O texto menciona o problema da rigidez do orçamento, o que contribuiu para alimentar discussão sobre o risco de pressões inflacionárias causadas pelo gasto público crescente.

"Nossa política fiscal não causa inflação nem no presente, nem no futuro", disse Mantega, que está em Istambul para a reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI). "Quem está falando de aumento de inflação está especulando para aumentar juros", disse o ministro.

Em Copenhague, onde participou da cerimônia de escolha da sede das Olimpíadas, Meirelles disse que não se sente alvo dos ataques de Mantega. "Não sou o alvo, não me sinto alvo e nem tenho por que me sentir."

Meirelles preferiu não criar polêmica em relação aos temas debatidos. "A questão toda é de interpretação do mercado. Isso é o que está ocorrendo", completou o presidente do BC.

Na quinta-feira, o secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa, convocou entrevista para atacar o que chamou de "terrorismo fiscal" que estaria sendo praticado por "alguns analistas" e pela "oposição" e afirmar que a política em curso não provoca riscos inflacionários. Ele foi instruído por Mantega a dar a entrevista.

Em Istambul, Mantega afirmou que a política fiscal anticíclica adotada pelo governo no Brasil "foi muito bem-sucedida". "Conseguimos reativar a economia com essa política fiscal, que foi de baixo dispêndio", disse. "Reduzimos o superávit primário muito menos do que outros países, e a redução não compromete nossa sustentabilidade fiscal." Perguntado sobre as críticas à política fiscal no relatório do BC, ele disse não ter interpretado as observações como críticas. "Eles não fazem crítica à política anticíclica."

Mantega afirmou que, segundo a pesquisa Focus, o governo está dentro da meta de inflação para este ano e para o próximo. Indagado por um jornalista sobre a referência do relatório do BC à rigidez do orçamento e aos gastos de custeio, Mantega afirmou não ter lido o relatório inteiro, mas só algumas partes.

De acordo com Mantega, é legítimo retirar parte dos estímulos à economia. "Uma parte dos estímulos já está acabando, mas outra ainda não", disse o ministro, dando como exemplo a isenção de IPI para veículos. "Mas é por isso que a taxa de juros de longo prazo não pode subir, porque isso vai desestimular os investimentos de longo prazo."