Título: FMI quer emergentes com menos reservas
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/10/2009, Economia, p. B8

Strauss-Kahn propõe novas políticas à China e aos países superavitários

Acumulem menos reservas e confiem no Fundo Monetário Internacional (FMI) para sua segurança. Essa é a nova mensagem do FMI para os emergentes, enfatizada ontem pelo diretor-gerente da instituição, Dominique Strauss-Kahn, e antecipada na quinta-feira pelo economista-chefe, Oliver Blanchard.

Após a crise na Ásia, em 1997, os emergentes acumularam enormes volumes de moeda forte, liderados pela China, hoje com reservas de cerca de US$ 2 trilhões. Esse empenho tem sido um fator de desequilíbrio global, segundo Strauss-Kahn. O melhor para todos, segundo ele, será revalorizar o papel do Fundo como grande acumulador comum de recursos e emprestador de última instância.

A mensagem vale também para os latino-americanos, incluído o Brasil, hoje com cerca de US$ 220 bilhões em caixa. A política brasileira só mudará se o FMI ficar muito mais parecido com um banco central, disse horas depois o ministro da Fazenda, Guido Mantega (ler mais na página seguinte).

Segundo o próprio Fundo, o aumento das reservas ajudou muitos países da América Latina a enfrentar a crise sem maiores estragos. As políticas anticrise aplicadas na região foram "reflexo de melhores condições macroeconômicas, dívida mais baixa e reservas de segurança maiores", de acordo com o Panorama Econômico Mundial apresentado na véspera por Blanchard.

Apesar disso, o Fundo defende tanto a manutenção do déficit na conta corrente do balanço de pagamentos - consequência da crise - quanto o abandono da acumulação de reservas.

"Este encontro anual pode ser o início de um novo FMI", disse o diretor-gerente. A missão mais importante seria contribuir para o equilíbrio global, cumprindo o mandato atribuído à instituição pelo G-20, na conferência de cúpula da semana passada, em Pittsburgh.

Esse mandato inclui a avaliação das políticas de cada país e de seus impactos na economia global, o acompanhamento dos mercados financeiros, a emissão de alertas em caso de perigo e, na interpretação de Strauss-Kahn, a criação de condições de segurança para tornar dispensável a acumulação excessiva de reservas. "O FMI pode ser um fator de equilíbrio", disse.

Esse novo Fundo retomaria, de certo modo, a missão proposta originalmente por seus criadores, há 65 anos, quase no fim da 2ª Guerra Mundial. O objetivo, na época, era estabelecer também na vida econômica e financeira as condições necessárias à paz, lembrou o diretor-gerente. A estabilidade, argumentou, continua sendo importante para a promoção da paz, tanto internacional quanto no interior dos países.

A governança global está sendo redefinida e há sinais positivos, disse ele: políticas convergentes foram adotadas em vários países para combater a crise, essas políticas coincidiram com as linhas propostas pelo FMI e a pauta do G-20 inclui a coordenação econômica.

Strauss-Kahn enumera três princípios para ordenação do mundo pós-crise: 1) cooperação internacional na condução das políticas, de acordo com a recomendação do G-20; 2) maior estabilidade financeira, com melhor regulação e melhor supervisão; 3) valorização do FMI como emprestador de última instância e fator de segurança, com critérios mais flexíveis e mais adaptados a cada caso.

Neste momento, comentou o diretor-gerente, há boas notícias a respeito da recuperação econômica, mas ele ainda se disse preocupado com o desemprego e o risco de recaída na crise. COMENTÁRIOS