Título: Lula tenta atrair empresas, mas suecos reclamam dos impostos
Autor: Calais, Alexandre; Andrei Netto
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/10/2009, Economia, p. B3

ENVIADOS ESPECIAIS, ESTOCOLMO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a reunião de cúpula entre Brasil e União Europeia em Estocolmo para vender o País aos empresários suecos como um dos melhores destinos para investimentos hoje no mundo.

Num discurso de improviso, feito logo depois do discurso oficial, para empresários suecos e brasileiros, Lula afirmou que o País atravessa um momento único, com grandes oportunidades, principalmente por causa da realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro.

Atualmente, estão no Brasil mais de 200 empresas suecas, que empregam cerca de 50 mil pessoas.

Os suecos, no entanto, reclamaram das dificuldades de se fazer investimentos no Brasil. A principal crítica é em relação à complexidade da estrutura dos impostos. Em declaração conjunta, empresários dos dois países reclamaram também do fato de os acordos de comércio entre o Brasil e a União Europeia ainda estarem incompletos, o que dificulta muito o comércio bilateral.

Mesmo assim, o intercâmbio comercial entre Brasil e Suécia praticamente triplicou nos últimos anos: passou de US$ 938 milhões em 2003 para US$ 2,28 bilhões no ano passado.

Lula voltou a lembrar no encontro que o Brasil está saindo da crise global antes que os outros países e disse que isso se deve ao fato de o governo estar cumprindo seu papel de indutor e regulador da economia.

Lembrou também que o fato de haver bancos estatais no País foi fundamental para solucionar o problema de crédito. "Quando o crédito começou a faltar, não vacilamos: começamos a comprar bancos."

Para o presidente, a lição que fica da crise é que não se pode mais cometer os mesmos erros. "O sistema financeiro tem de existir para financiar o desenvolvimento, não para pagar bônus milionários", afirmou, em referência direta aos altos bônus pagos a executivos dos bancos que se tornaram alguns dos principais responsáveis pela crise financeira global.

Ele disse também que o Brasil foi o País que mais perdeu oportunidades de crescimento nas últimas décadas, mas que isso não vai se repetir. "O Brasil não vai jogar fora o século 21 como fez com o século 20".

Lula, o primeiro-ministro da Suécia - país que ocupa hoje a presidência rotativa da União Europeia -, Fredrik Reinfeldt, e o presidente da Comissão Europeia - o braço executivo da UE -, José Manuel Durão Barroso, reiteram, após a reunião de cúpula, a necessidade de se concluir no ano que vem as negociações da Rodada Doha - acordo que tem por objetivo reduzir as barreiras comerciais em todo o mundo, mas se arrasta sem conclusão desde 2001.

Brasil e UE também concordaram em "intensificar seus esforços para a retomada das negociações com vistas a concluir um acordo de associação Mercosul-UE ambicioso e equilibrado". As conversas entre os dois blocos estão praticamente paradas desde 2004.

* O repórter viajou a convite da Comissão Europeia