Título: Grupo usa protestos para questionar UNE
Autor: Bizzotto, Ana ; Mandelli, Mariana ; Mazzitelli,
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2009, Vida&, p. A18

Nove surgiu com escândalo do Enem

A indignação pelo vazamento do Enem fez surgir a Nova Organização Voluntária Estudantil (Nove). O grupo, que se diz "apartidário, pacifista e ativo", organizou três passeatas com um número crescente de estudantes, no centro do Rio, e começa a se expandir para Minas e São Paulo.

O Nove foi fundado em 1º de outubro, com representantes de 11 colégios particulares da zona sul do Rio e cursinhos pré-vestibulares. Em menos de uma semana de existência, o comitê central passou de 11 para 30 escolas, algumas delas públicas.

"Não queremos passar a ideia de ser um movimento elitista", disse o estudante Miguel Darcy, de 17 anos, um dos organizadores do grupo, que já tem uma página no Twitter (@_NOVE). Para Darcy, o Ministério da Educação tomou a decisão correta ao adiar o Enem. "Mas a prova foi feita às pressas, sem consulta aos alunos e professores, e o vazamento da prova só reflete isso que estávamos vendo", afirmou.

Os membros do Nove querem a adesão de outros Estados. "Nosso objetivo é nacional", diz Carolina Delamare, de 17. Ainda sem representantes em São Paulo, o grupo colocou a questão na pauta da próxima reunião.

Para o estudante Jonas Murad, de 21, também do Nove, a União Nacional dos Estudantes (UNE) vem perdendo representatividade. "Essas entidades já representaram os estudantes, mas foram engolidas pelo governo".

O diretor de comunicação da UNE, André Luiz Vitral, disse que não comenta o surgimento de novas entidades. "Soube que um vereador está incitando essa Nove", afirmou, sem revelar o nome do político. Ele não concorda que a UNE esteja perdendo representatividade. "Nossos congressos reúnem mais estudantes a cada ano", argumenta.

"Nosso governo é a educação", continuou Vitral, em resposta à afirmação de que a entidade teria aderido ao governo do PT. "Mas reconhecemos a diferença do governo Lula para os outros governos. O ProUni (Programa Universidade para Todos) e a criação de mais de 4,5 mil vagas em universidades federais mostram que está havendo uma democratização do ensino."

O presidente da UNE, Augusto Chagas, acha positivo o surgimento de grupos como o Nove, mas refuta a crítica de que a UNE perdeu sua representatividade. "É uma crítica inadequada", disse.

PROPOSTA DE FUSÃO

Membros da Aliança Nacional dos Estudantes - Livre (Anel), outra entidade do movimento estudantil que faz oposição à UNE/Ubes, querem conversar com representantes do Nove. "Queremos avançar na discussão sobre o Enem, que não representou o livre acesso à universidade", disse Jorge Eduardo de Castro Alves, de 24 anos, militante da Anel. Para ele, o ideal seria que houvesse uma fusão das duas entidades. "Se o movimento estudantil ficar se dividindo, vamos perder força", conclui.