Título: Fluxo cambial é positivo pelo 6º mês seguido
Autor: Xavier, Luciana ; Ribeiro, Ana Paula
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2009, Economia, p. B3
Conta financeira compensa resultado negativo do comércio exterior; saldo é de US$ 1,36 bi
O Brasil recebeu US$ 1,36 bilhão em setembro, no sexto mês seguido de fluxo cambial positivo para o País. Dados do Banco Central mostram que investidores e multinacionais lideraram o movimento mais uma vez. Em meio à megaoferta de ações do Santander, o início de outubro dá sinais de mais força e US$ 1,42 bilhão ingressou apenas nos dois primeiros dias do mês. Como consequência, o BC reforçou a atuação diária no câmbio para evitar queda acentuada do dólar. Analistas estimam que a compra de dólares pelo BC pode ter superado US$ 4 bilhões na terça-feira, dia 6. O BC não comenta o assunto.
Os dados mostram que o ingresso de dólares continua sendo gerado pelas operações financeiras, que incluem aplicações em ações e títulos e investimentos produtivos. Transações como essas trouxeram US$ 4,59 bilhões no mês passado, o melhor resultado para setembro da série iniciada em 1982. Um ano atrás, exatamente no mês do agravamento da crise, estrangeiros se desfizeram de ativos no Brasil e remeteram US$ 4,18 bilhões de volta aos países de origem.
Esse bom resultado financeiro foi suficiente para compensar a saída de US$ 3,22 bilhões gerada pelas operações ligadas ao comércio exterior no mês passado. O diretor de câmbio da Pioneer Corretora, João Medeiros, explica que o saldo negativo no segmento comercial tem sido gerado pela opção de muitos exportadores de manter dólares no exterior para pagar dívidas futuras.
INTERVENÇÃO
O aumento do ingresso da moeda norte-americana no início de outubro fez o BC reforçar as intervenções diárias. O diretor de câmbio da Pioneer Corretora, João Medeiros, avalia que a instituição teria comprado US$ 4,2 bilhões apenas na última terça-feira. "Boa parte desse dinheiro ingressou no País para a compra de ações do Santander"", diz. A liquidação da compra dos papéis do banco espanhol, que estrearam ontem na bolsa paulista, será feita na próxima terça-feira, 13. Portanto, mais dólares direcionados a essa operação ainda podem ingressar no País.
Medeiros elogia a ação da autoridade monetária no câmbio porque, para ele, "o BC apenas atenua os movimentos, não determina o rumo das cotações". Ele avalia que o governo tem fôlego para reagir ao ingresso de dólares gerado pela nova onda de oferta de ações na bolsa. Por isso, acredita que compras maciças do BC podem se repetir.
O diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, defendeu no fim de setembro a compra de dólares até que as reservas atinjam um nível considerado "ideal" pela autoridade monetária. Ontem, as reservas estavam em US$ 225,12 bilhões.
Setembro foi o mês em que o volume de intervenções do BC foi maior desde o agravamento da crise: as compras de dólares aumentaram as reservas em US$ 3,481 bilhões, o maior resultado desde abril de 2008. Desde a retomada dos leilões diários em 4 de maio, o BC já retirou US$ 14,32 bilhões do mercado.