Título: Papéis do Santander caem 3,7% na estreia
Autor: Modé, Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/10/2009, Economia, p. B4
Demanda supera largamente a oferta e investidor de varejo entra em rateio; volume negociado beira R$ 2 bi
As ações do Banco Santander estrearam no pregão da BM&FBovespa com alto volume de negociação, mas queda na cotação. As chamadas units (compostas por 55 ações ordinárias e 50 preferenciais) perderam 3,74% e encerraram o dia valendo R$ 22,62. O giro financeiro do papel beirou os R$ 2 bilhões, mais que o dobro do segundo colocado no dia, a GVT, que negociou R$ 741,5 milhões.
O analista de instituições financeiras da Lopes Filho, João Augusto Frota Salles, atribuiu a queda do papel a três fatores. O primeiro deles é que o Índice Bovespa, principal termômetro do mercado brasileiro, também recuou (0,05%).
O segundo é que "há limites para o otimismo". "Embora o momento do mercado brasileiro seja muito bom, a liquidez, hoje, é bem menor do que era no auge das aberturas de capital, em 2007", explicou.
Por fim, Salles argumentou que já havia uma referência de preço para as ações do banco. É que a operação do Santander Brasil não constituiu uma abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) típica. A instituição tinha papéis do antigo Banespa negociados na bolsa. "É uma situação diferente de uma empresa para a qual não há nenhuma referência de preço", explicou.
As ações da processadora de cartões de crédito e débito Visanet subiram 12% na estreia no pregão, no fim de junho. Quando abriram o capital, a então Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) e a Bovespa viram altas expressivas em seus papéis no primeiro dia de negociações - 22% e 52%, respectivamente.
Com a oferta pública, o Santander captou R$ 14,1 bilhões (sendo R$ 13,8 bilhões líquidos, uma vez que o banco pagou R$ 300 milhões em comissões). Até agora, é a maior oferta de ações do mundo em 2009. Segundo a Agência Reuters, as ofertas no Brasil (basicamente do Santander e da Visanet) respondem atualmente por quase 30% dessas operações no ano.
Clientes e funcionários do banco conseguiram comprar tudo o que queriam, mas houve rateio para o restante do público de varejo. Os pequenos investidores podiam reservar de R$ 3 mil a R$ 300 mil. A operação garantiu R$ 3 mil para todos. Quem queria mais ficou com 8,14% do que excedeu os R$ 3 mil. Exemplo prático: uma pessoa que reservou R$ 13 mil acabou ficando com R$ 3.814 em ações - resultado de R$ 3 mil mais R$ 814 (8,14% dos R$ 10 mil adicionais).
CERIMÔNIA
A cerimônia que marcou a estreia do papel na BM&FBovespa foi concorrida e teve até apresentação musical do grupo Afro Lata, derivado do AfroReggae (formado por jovens moradores de favelas do Rio de Janeiro). O principal executivo presente ao evento era o presidente do Santander Brasil, Fabio Barbosa.
Nenhum alto funcionário da matriz espanhola estava na cerimônia porque o banco quis caracterizá-la como uma operação brasileira. No mesmo momento, em Nova York, onde os papéis também foram lançados, estava o vice-presidente da filial brasileira, José Berenguer. Lá, as units estrearam com queda de 3,51%.
Nenhum executivo falou com a imprensa. Barbosa fez um discurso pouco antes de a negociação começar. Segundo ele, a oferta pública foi feita "no momento perfeito". "O País foi um dos que menos sofreram e um dos primeiros a sair da crise. O Brasil sai mais fortalecido e nossa economia foi aprovada", afirmou Barbosa.
COLABOROU ANA PAULA RIBEIRO