Título: MEC já estudava mudar Enem para evitar fraudes
Autor: Nunomura, Eduardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2009, Vida&, p. A23

A ideia para 2010 é ter 5 ou mais provas com questões totalmente distintas em cada edição

Cinco ou mais provas com questões totalmente distintas em cada edição do novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Em um fim de semana, seriam pelo menos 900 perguntas diferentes. Mesmo se houvesse um vazamento, a chance de um aluno decorar tantas questões seria mínima. O antídoto antifraude foi desenhado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), mas para ser implementado em 2010, e não neste ano.

Uma outra mudança é dar ao aluno a chance de realizar o Enem no mínimo duas vezes em um ano. Em outubro, ele faria a prova, cujos resultados poderiam ser usados nos vestibulares de fim de ano. E, em março ou abril, para os processos de seleção de junho e julho. Assim, o Inep acabaria com a pressão do "dia D" do vestibulando e indiretamente reduziria o número de inscritos por edição do exame.

Essas duas medidas já estavam em estudo pelo comitê de governança do Enem, constituído por representantes do governo federal, secretários estaduais da Educação, universidades e institutos federais. Elas ganharam ainda mais força depois da revelação de vazamento do Enem feita pelo Estado na semana passada, após dois homens tentarem vender a prova de 2009. O Ministério da Educação cancelou o exame a dois dias de sua aplicação.

Amanhã, o comitê de governança do Enem se reúne extraordinariamente em Brasília para discutir a prova deste ano, tentando definir os calendários dos vestibulares. Mas a principal missão do grupo é a de sugerir as mudanças para as futuras edições. Neste ano, o Enem ampliou o número de questões de 63 para 180. São quatro versões da prova, em que as 180 questões apenas mudam de posição. Também foi introduzido o sistema da Teoria da Resposta ao Item (TRI), que permitirá que provas distintas sejam calibradas e comparáveis.

O Inep precisará ampliar o banco de questões para gerar mais edições e provas diferentes em um ano. Hoje são 2 mil, mas deve haver um estoque de no mínimo 20 mil questões. Além disso, o MEC precisa convencer a sociedade de que é possível haver um processo de seleção em que candidatos são avaliados por exames distintos. Neste ano, os alunos farão a prova, levarão o gabarito, mas não conseguirão calcular as notas. Pelo TRI, as questões têm pontuações diferentes, das simples para as mais complexas.

"O que a gente quer é acabar com a grande prova, ter exames menores e até regionalizados. Um para o Rio Grande do Sul, outro para São Paulo, por exemplo. Se houvesse vazamento, só alguns seriam cancelados", diz o presidente do Inep, Reynaldo Fernandes. "No limite, com a TRI poderíamos criar um sistema de aplicadores e a prova seria marcada para quando o candidato quisesse."

O Enem surgiu em 1998 durante a gestão do então ministro Paulo Renato Souza com a concepção de ser um instrumento de avaliação individual dos alunos. A atual gestão do MEC, tendo à frente do processo o ministro Fernando Haddad, quer que o novo Enem sirva de passaporte para que os jovens ingressem nas universidades ou no mercado de trabalho, certificando-os segundo seu desempenho. Para as escolas, o resultado geral indicaria a qualidade do ensino. A ideia do Inep é fazer com que o Enem tome o espaço do vestibular, visto por secretários como um entrave para a reforma no ensino médio. Se isso ocorrer, daqui a alguns anos terão mais interpretação e menos decoreba.