Título: Para interno, exame é chance de mudar a vida
Autor: Saldaña, Paulo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2009, Vida&, p. A26

Pedro tem 17 anos e estuda todos os dias. Não perdeu nenhuma aula no último ano nem sequer chegou atrasado. Sonha em cursar Educação Física. Como milhões de jovens, estava ansioso para o Enem. O cancelamento da prova, no entanto, pode ter um peso maior para ele. Pedro é interno da Fundação Casa (antiga Febem) de Osasco e o resultado do Enem pode acelerar os programas socioeducativos para que ele volte para casa. "Eu estava contando que faria o exame agora. Será difícil esperar, mas fazer o quê?"

Pedro está detido há um ano por ajudar um tio a controlar a venda de drogas em Barueri (SP). "Poderia nem estar vivo. Aprendi muita coisa aqui dentro", diz ele, que já pensa em uma pós-graduação.

Dos 40 internos da unidade de Osasco, apenas Pedro e Alex (nomes fictícios) estão aptos para fazer a prova. Alex, de 17 anos, sonha mais alto: quer estudar Medicina. "Espero ter uma boa nota no Enem. Estou usando livros para estudar e fazendo simulado", diz o jovem, levado à Fundação por assalto.

No Estado de São Paulo, 390 internos inscreveram-se para o Enem. Eles farão a prova nas unidades onde estão. Professores da rede estadual ministram as aulas para os menores. Para o professor Paulo Paterlini, de 67 anos, engenheiro aposentado e professor de menores infratores há cinco anos, só o fato de eles fazerem a prova já é importante. "Eles se sentem valorizados com isso", diz.

Já nas prisões do Estado, 7.808 detentos estão inscritos no Enem. É o caso do paulista Marcio Nakayama, de 32 anos, que cumpre 12 anos por homicídio na Penitenciária de Bauru (SP). Preso desde 2003, ele agora está em regime semiaberto e tenta um segundo diploma.

A lei não prevê remissão de pena para quem estuda. Mas, segundo a Funap, alguns juízes equiparam o estudo ao trabalho: a cada três dias de escola, um dia a menos na prisão. De uma população total de 150 mil presos, 15 mil estudam.