Título: Bric quer influir em empréstimo de crise
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/10/2009, Economia, p. B14

Grupo pode contribuir com US$ 80 bi para FMI, se participar das decisões

Brasil, Rússia, Índia e China, os Brics, querem poder de veto no uso do novo dinheiro que o Fundo Monetário Internacional (FMI) terá para emprestar. O Fundo está levantando US$ 500 bilhões adicionais para ajudar os países mais afetados pela crise. Os Brics dispõem-se a contribuir com US$ 80 bilhões, 16% do total, desde que participe das decisões de crédito.

A proposta, anunciada ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi combinada numa reunião com seus colegas indiano, chinês e russo. O assunto será discutido amanhã por funcionários dos 26 países participantes do esquema especial de captação conhecido pela sigla NAB (New Arrangements to Borrow, ou Novos Acordos de Captação de Empréstimos).

Os Estados Unidos são o membro mais poderoso desse grupo de contribuintes, com a maior fatia do dinheiro disponível antes da nova operação. Seu secretário do Tesouro, Timothy Geithner, participou como convidado da reunião dos Brics e, segundo Mantega, não opinou sobre o tema. À tarde, numa rápida entrevista, disse que a proposta "faz muito sentido".

Os US$ 500 bilhões serão recursos temporários, postos à disposição do Fundo por alguns países-membros. Os fornecedores comprometem-se a conceder o financiamento, mas sem desembolso antecipado do dinheiro.

O NAB entrou em vigor em novembro de 1998, depois das crises do México e da Ásia. Foi criado para situações especiais, quando os recursos permanentes não bastam, e sua segunda renovação foi aprovada em 2007, por mais cinco anos, a partir de 2008. Em 2 de abril deste ano, na cúpula de Londres, o G-20 recomendou o levantamento de US$ 500 bilhões por meio do NAB. O Fundo aprovou a decisão poucas semanas depois, na Reunião de Primavera, em Washington.

Inicialmente, o governo brasileiro decidiu ajudar o FMI de outra forma, aplicando US$ 10 bilhões em papéis emitidos pela instituição e remunerados com juros. Segundo Mantega, contribuir para o NAB seria assumir o risco de um longo adiamento da reforma do sistema de cotas e votos do FMI.

O próprio NAB, com 26 contribuintes, tem um esquema de participação e decisão semelhante ao do Fundo. Os Estados Unidos, com US$ 6,64 bilhões, detêm 19% do total de US$ 34 bilhões. Curiosamente, o NAB só foi ativado uma vez, em dezembro de 1998, para financiar um empréstimo ao Brasil.

Agora, o governo brasileiro parece ter vislumbrado a chance de usar o NAB para ganhar peso político antes de se completar a reforma de cotas e votos do FMI. A ideia parece ter seduzido os outros Brics, que propõem participar do NAB se a soma das suas fatias for suficiente para lhes dar o poder de veto, seja qual for o total das contribuições. No FMI, os EUA, com pouco mais de 16%, detêm esse poder nas decisões mais importantes.