Título: Lula autoriza blitz para unir base em torno de Dilma
Autor: Moraes, Marcelo de ; Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2009, Nacional, p. A7

Crescimento de Ciro leva governo a articular operação de emergência

Preocupado com a estagnação da candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, nas pesquisas e com o crescimento do deputado Ciro Gomes (PSB-CE), o governo decidiu fechar o cerco sobre todos os partidos da base aliada, cobrando apoio e adesão imediata à campanha.

A ideia da blitz, avalizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é garantir a candidatura única de Dilma e empurrar Ciro para a disputa pelo governo de São Paulo ou deixá-lo na corrida presidencial, mas sem o apoio de legendas aliadas que lhe garantam tempo de TV e palanques estaduais.

Apenas nas últimas 48 horas, representantes do governo e a própria Dilma se reuniram com dirigentes de três partidos (PMDB, PDT e PRB) e a blitz será estendida a todas as outras legendas da base. Na próxima terça-feira, a pressão será sobre o PR. Na reunião, estarão presentes até os novos líderes, como o ex-governador do Rio Anthony Garotinho.

O Planalto aposta que o auge da manobra será a formalização do compromisso com o PMDB. Ontem, o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), cotado para vice de Dilma, conversou por telefone com Lula e deixou praticamente acertada a data do evento. Deve ocorrer em Brasília, no dia 20 ou 21, com a presença da cúpula das duas siglas, de Lula e Dilma.

Nesse encontro, será anunciada a parceria política em torno de Dilma, com a cessão da vaga de vice para o PMDB, e a intenção de que essa parceria se reproduza regionalmente.

Dirigentes petistas já concordaram com o plano e sonham até com a adesão imediata de Ciro. "Estamos deflagrando o movimento Dilma presidente. Ciro é nosso companheiro e queremos ele nesse movimento", afirma o líder do PT na Câmara, Cândido Vaccarezza (SP).

Interlocutores de Lula dizem que ele autorizou a estratégia por causa dos números preocupantes em pesquisas de intenção de voto. Em locais importantes, como Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul e Distrito Federal, pesquisas oficiais e levantamentos informais mostram que Dilma aparece com desempenho próximo ao de Ciro ou pior.

No governo, o receio é de que a demora na consolidação do arco de alianças permita que a candidatura Ciro se consolide com mais força que a da ministra e isso resulte na atração dos partidos governistas para a sua campanha. Lula avalia que é possível reverter a situação durante a campanha, desde que haja bastante tempo de propaganda eleitoral para a ministra e não exista um outro candidato da base dividindo as atenções.

ISOLAMENTO

"O governo hoje está trabalhando para isolar a candidatura presidencial de Ciro Gomes", confirma o senador Renato Casagrande (ES), secretário nacional do PSB. "A intenção do PSB é ter candidatura presidencial própria, com o deputado Ciro Gomes. Mas esse é um processo que está em construção. Se o governo for contra essa candidatura e atrair para o lado da ministra Dilma o apoio de todos os partidos da base, a consolidação da campanha será, obviamente, muito mais difícil."

No cenário nacional, a candidatura de Ciro chegou a ser vista pelo governo como interessante, caso fosse necessária para impedir que o candidato da oposição - o mais cotado é o governador de São Paulo, José Serra (PSDB) - vencesse no primeiro turno. Mas a avaliação mudou. Ciro ultrapassou Dilma em algumas capitais. E o diagnóstico governista é de que dificilmente a campanha da ministra seja bem-sucedida, se ele disparar nas pesquisas ou se dividir os votos e os governistas.

Pesquisa do Ibope no Distrito Federal, veiculada nesta semana, é um exemplo do que preocupa o governo. Nesse levantamento, Ciro aparece em primeiro lugar, com 25%. O tucano José Serra tem 15% e Dilma aparece apenas em quarto lugar, com 12 %, menos da metade do que foi obtido pelo deputado do PSB. Nessa pesquisa, Dilma está atrás até de Heloísa Helena (PSOL), que tem 13% e nem deverá entrar na disputa.

No Rio Grande do Sul, onde Dilma construiu a sua carreira, pesquisa do Ibope feita entre 25 e 29 de setembro também mostra números preocupantes para os defensores da sua candidatura. Serra tem 30% e Dilma aparece praticamente empatada com Ciro. Ela tem 20% e o deputado cearense, 19%.