Título: Direita suíça associa minaretes a foguetes
Autor: Netto, Andrei
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/10/2009, Internacional, p. A14

Os suíços irão às urnas para decidir se minaretes poderão ser construídos no país conhecido por sua paisagem alpina, chalés e vacas. O debate ganhou proporções políticas e se transformou em uma ilustração do relacionamento da Europa com o mundo islâmico. A campanha contra a construção dos minaretes ainda colocou fogo no debate ao espalhar pela Suíça cartazes comparando as torres das mesquitas a foguetes, em uma alusão ao terrorismo.

Não é a primeira vez que tradições islâmicas causam polêmica na Europa. Em 2004, a França proibiu o uso de véus entre as meninas que frequentam escolas públicas no país.

Grupos de direita conseguiram reunir votos suficientes para que um referendo nacional fosse convocado após a construção de quatro minaretes. A votação, que ocorrerá em novembro, será um teste sobre a capacidade da Europa cristã de aceitar a existência de imigrantes de outros credos.

"Estamos caminhando em direção à criação de guetos", afirmou o presidente das Organizações Islâmicas na Suíça, Hisham Maizar. "Essa votação apenas ajudará os grupos mais radicais no mundo islâmico a ganhar adeptos", disse o senegalês Gorky Ndoey, um muçulmano que vive em Genebra há 11 anos. "A religião islâmica ainda tenta obter um reconhecimento na Europa."

Os partidos de direita alegam que a medida tem como objetivo impedir um suposto avanço dos grupos islâmicos na Europa. "Minaretes não são símbolos religiosos, mas sinais de uma ambição política pelo poder", disse a deputada federal Jasmin Hutter, da União Democrática Cristã. Para ela, os muçulmanos não precisam de minaretes para manter sua religião e cultura. "São os extremistas islâmicos que querem minaretes."

Num comunicado, os autores da proposta falam da "crescente islamização da sociedade suíça". Os muçulmanos representam 5% da população da Suíça - há 30 anos eram 0,2%. Uma pesquisa do Pew Research Center concluiu em dezembro que houve um aumento nos últimos dez anos da rejeição dos europeus pelos imigrantes muçulmanos: 52% dos espanhóis, 50% dos alemães e 46% dos poloneses têm uma avaliação negativa sobre a imigração islâmica.